Agrotóxicos continuam afetando a saúde dos lavradores no RS
2004-06-24
As belas paisagens do filme O Quatrilho (1994) não revelaram uma relação conflitante presente na região do município de Antônio Prado (RS), onde a maior parte das imagens foram feitas. Um estudo apresentando nesta segunda-feira (21/06), no 6º Congresso Brasileiro de Epidemiologia, em Olinda (PE), mostrou que a cada ano 2% dos trabalhadores de parte da região da Serra Gaúcha sofrem com intoxicações por agrotóxicos. — O fato de toda a região ser formada por vínicolas faz com que os índices não sejam tão elevados, explicou Neice Faria, da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), uma das autoras do estudo. — O que mais ataca as uvas são fungos e os fungicidas apresentam uma baixa toxicidade, quando comparados com outras substâncias. O baixo índice revelado pelo estudo não significa que o problema não existe ou muito menos que ele está sob controle. Segundo Neice, o uso de equipamentos de proteção individual, obtido na mesma pesquisa, mostra que a segurança dos 1.479 agricultores familiares analisados está sempre ameaçada. Pelas tabelas apresentadas pela pesquisadora, 86% dos homens e 68% das mulheres não usam nenhum tipo de proteção para a pele. — O que é uma questão basicamente cultural, afirma. Um dos grandes problemas identificado é que as roupas, desenvolvidas para países de clima frio, além de caras são muito quentes e desconfortáveis. Outro dado revelado pelo Grupo de Saúde do Trabalho da UFPel mostra que o problema pode crescer de dimensão de forma considerável. — Conseguimos detectar que 12% dos trabalhadores investigados apresentam sintomas relacionados com a asma, disse Neice. Segundo ela, as correlações estatísticas feitas não deixam dúvidas de que essa incidência de problemas respiratórios é causada pelos agrotóxicos. — Além disso, outros pesquisadores verificaram que essa exposição no campo também está causando problemas de má formação de fetos, alertou a cientista. (Fapesp 22/06)