Entrevista com o índio preso por defender as florestas no México
2004-06-23
Acusações de posse de armas e drogas mantêm preso, há mais de um ano, o indígena Isidro Baldenegro, férreo opositor ao corte de florestas em uma comunidade da serra Tarahumara, no Estado mexicano de Chihuahua. Enquanto grupos humanitários, como Anistia Internacional e Greenpeace, defendem sua liberdade e afirmam que é um preso de consciência, Baldenegro permanece na prisão, onde trabalha como encanador. — Aqui só estamos perdendo tempo, pois o desmatamento continua e o pior é que já não se pode fazer nada, disse ele. Advogados que acompanham o processo disseram que o julgamento contra Baldenegro, um camponês pobre que aprendeu a ler e escrever sozinho, entrou em sua última fase e que em cerca de dois meses poderá ser decretada sua liberdade ou condenação a mais de dez anos de detenção. Baldenegro se declara inocente e confia em que será libertado. Grupos humanitários afirmam que as acusações contra ele são invenções das máfias dedicadas ao desmatamento.
Quem é o culpado de você estar preso?
— Acreditamos que podem ser os caciques ou os compradores de madeira contra os quais lutamos. São os que querem continuar acabando com a floresta, declara.
Com sua prisão, essas pessoas cumpriram seu objetivo: que continue o desmatamento?
— Meus companheiros me contam que infelizmente isso continua, o que me deixa meio triste é que não posso fazer nada. Mas, também me contam que continuam lutando e isso me tranqüiliza um pouco.
Há uma mobilização nacional e internacional exigindo sua libertação. O que pensa disso?
— Meus amigos me contam que existem algumas organizações, mas, na realidade, aqui tenho pouca informação. Sinto que ajudam as publicações e denúncias que são feitas, pois isso todo mundo vê e talvez o juiz do meu processo possa dar prioridade ao meu caso para que me libertem.
Você é inocente de tudo que o acusam, o que vive é uma injustiça?
— Totalmente, e estar preso é muito triste, mas, não quero ficar pensando nisso porque assim tudo fica mais pesado. Confio, como diz o advogado, que possamos sair logo, pois as acusações são infundadas.
Grupos humanitários pediram ao presidente Vicente Fox que intervenha em seu caso para apressar sua libertação. O que pensa que o presidente pode fazer?
— Gostaria que o presidente determinasse às autoridades que dessem prioridade aos problemas agrários de minha comunidade em Tarahumara. Quanto a mim, apenas pediria que busca uma forma de agilizar meu processo.
Qual sua mensagem a outros camponeses contrários ao desmatamento?
— O que posso fazer é um apelo: o meio ambiente e seus recursos são heranças para os que virão no futuro. Quero que as crianças conheçam essas riquezas e as aproveitem de forma adequada, tal como fizeram nossos avós.
Acredita que o governo faz o suficiente para defender as florestas e proteger o meio ambiente?
— As leis agrárias e as que fazem as comissões do governo são textos bem escritos, mas, não são aplicadas. O que vejo é que toda destruição continua, e acredito que muito disso se relaciona com a corrupção. Que apliquem as leis com justiça, e então direi que estão agindo corretamente. Se algum dia ficar livre, a idéia é seguir adiante. Não o faria se a comunidade não me apoiasse, então, só lhes agradeceria e me retiraria. Mas, continuaria lutando contra o corte das florestas em outros lugares. (IPS)