Protesto na Bolívia contra suposto investimento chileno em Uyuni
2004-06-23
Uma grande manifestação na cidade de Potosi, no sudoeste da Bolívia, se somou terça-feira(22/06), à greve de fome que fazem desde a semana passada dirigentes dessa região para pedir a anulação de concessões minerárias a duas empresas, uma delas supostamente ligada à chilena Quiborax. A manifestação derivou em uma assembléia que resolveu dar ao governo um prazo de 72 horas para que anule as concessões minerárias dadas às empresas Non Metalic, à qual vinculam com Quiborax, e Estrofe, as quais exploram ulexita e bórax no salgadio de Uyuni, informou o presidente do Comitê Cívico, René Navarro. O salgadio de Uyuni é um gigantesco deserto de sal, situado cerca de 553 quilômetros ao sul de La Paz, que contém importantes jazidas de não metálicos em parte de seus quase 11 mil quilômetros quadrados de superfície, perto da fronteira com Chile, em pleno planalto andino. Da manifestação, na qual participaram umas 10.000 pessoas, foi expulso o secretário executivo da Central Operária (COB), Jaime Solares, com o argumento que era um movimento estritamente cívico e não sindical. Aos gritos de fora, fora!, o sindicalista foi tirado a empurrões da coluna de manifestantes quando chegava na praça principal desta cidade colonial, famosa pela riqueza argentífera da mítica Colina Rico. Navarro assinalou que junto com um grupo de pessoas está em greve de fome há seis dias para exigir a reversão dessas concessões por considerar que estão viciadas e não cumprem leis ambientais. Enquanto isso, em La Paz, no Parlamento, o deputado Wilson Magne lidera uma ação similar iniciada na semana passada com outros 12 dirigentes regionais de Potosi. A acusação que a Non Metalic está vinculada a capitais chilenos está sendo investigada pelo superintendente de Minas, Edgar Barrientos, pela proibição que existe de dar concessões a estrangeiros a 50 quilômetros da fronteira, uma distância similar ao existente entre o salgadio e o ponto limítrofe com o Chile. Barrientos declarou a uma emissora de rádio local que está disposto a pedir a reversão dessas concessões se se provam as acusações, mas pediu aos manifestantes que sigam o curso legal com suas denúncias apresentando-as ante a entidade que dirige. — Inclusive sob o risco que as empresas chilenas possam processar-me, digo que se isto se demonstra, vamos ser os primeiros a pedir a nulidade dessas concessões e que essas concessões se revertam para o povo que está passado um momento trágico de miséria e pobreza, disse a autoridade à emissora. O superintendente também qualificou de: — uma grande incoerência reivindicar nosso mar ao Chile e que este país ao mesmo tempo esteja se beneficiando com a ulexita, boro e os não metálicos. No entanto, esta autoridade e outros vice-ministros do atual Governo também foram criticados por Navarro por sua suposta responsabilidade nas adjudicações e nas permissões ambientais outorgadas neste caso. (EFE 22/06)