Análise: Petróleo barato e abundante está com os dias contados
2004-06-14
Com fim da exploração barata, alternativas devem ser achadas logo. Tão certo quanto a morte é o fato de que um dia seremos forçados a aprender a viver sem petróleo. Ninguém sabe exatamente quando será esse dia, mas as pessoas de meia idade atualmente ainda devem viver para ver. Antes disso, teremos optado por uma ou várias novas fontes de energia. E as importantes decisões que serão tomadas a esse respeito nos próximos anos vão determinar se nossos herdeiros vão nos agradecer ou nos insultar pelo nosso legado. Sempre haverá petróleo em algum lugar, mas em breve será caro demais extrai-lo e queimá-lo - seja por razões técnicas ou porque é poluente demais, o petróleo deixará de ser viável. Num artigo na publicação Scientific American, em 1998, Colin Campbell e Jean Laherrere concluíram: — O mundo não está ficando sem petróleo – ao menos não por enquanto. — O que nossa sociedade vai enfrentar, e em breve, será o fim do petróleo barato e abundante do qual dependem todos os países industrializados. Eles disseram que ainda há talvez cerca de 1 trilhão de barris de petróleo convencional por serem extraídos, embora outro levantamento geológico feito pelos Estados Unidos em 2000 tenha estimado a cifra em 3 trilhões. São produzidos atualmente cerca de 75 milhões de barris por dia. Analistas conservadores (leia-se pessimistas) dizem que a produção petrolífera de todas as possíveis fontes terá em cerca de 2015 um pico de 90 milhões de barris diários. De acordo com as estimativas de Campbell e Laherrere, as reservas mundiais durariam cerca de 30 anos a uma extração de 90 milhões de barris diários. Ou seja, mudanças drásticas serão necessárias pouco após 2030. E as mudanças serão realmente drásticas: 90% do transporte mundial depende do petróleo. A maioria dos produtos químicos e plásticos aos quais prestamos pouca atenção – móveis, medicamentos, sistemas de comunicação – também são feitos a partir do petróleo. Os mais pessimistas propõem que o uso do petróleo para o transporte seja imediatamente interrompido, para que possamos mantê-lo para outras funções insubstituíveis como essas. Em maio de 2003, a Associação para o Estudo do Pico do Petróleo e do Gás (Aspo, sigla em inglês), fundada por Colin Campbell, realizou um seminário em Paris. Um dos palestrantes era o executivo de um banco de investimentos Matthew Simmons, ex-conselheiro do presidente americano, George W. Bush. — Penso que o momento de pico do petróleo nunca será previsto até depois que ele tenha ocorrido, declarou Simmons. — Mas isso vai ocorrer e minha análise é que não está muito distante. A Aspo sustenta que a data mais importante não é aquela em que o petróleo vai se esgotar, mas sim o momento de pico da produção, que vai anunciar um declínio no fornecimento. Em suas projeções, o pico deve ser atingido por volta de 2010. Mudanças fundamentais podem ser impostas sobre nós de forma acelerada. E mesmo se ainda houver petróleo disponível, talvez deixá-lo intocado seja a melhor opção.
Muitos cientistas defendem também a redução em pelo menos 60% até 2050 as emissões do dióxido de carbono, causador do efeito estufa, para evitar problemas climáticos. Isso significaria queimar bem menos petróleo do que se queima nos dias de hoje.
Há várias outras formas de energia, e muitas delas têm visto seus preços caírem a ponto de concorrerem com o petróleo no futuro.
Há assim, toda razão para fazer planos para uma era pós-petróleo. As mudanças serão devastadoras? Certamente será uma época diferente, mas nossos ancestrais viveram sem petróleo e sem queixas.(BBC 11/06)