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2004-06-09
Cada vez mais, vai ser preciso acostumar-se com um petróleo caro. A disparada das cotações nestes últimos meses, quando o barril passou de US$ 25, há um ano, depois da vitória militar americana no Iraque, para cerca de US$ 40, hoje, constitui, para alguns, um quarto choque petroleiro, depois dos de 1973 (embargo da Opep - Organização dos Países Exportadores de Petróleo), de 1979 (revolução iraniana) e de 1990 (invasão do Kuwait pelo Iraque de Saddam Hussein). Os mais pessimistas enxergarão nesta evolução uma ameaça para a retomada econômica, uma vez que os choques precedentes resultaram numa elevação da inflação e numa recessão nos países desenvolvidos. Contudo, um tal pessimismo é prematuro. A US$ 40 o barril, o preço do ouro negro não alcança sequer a metade, em valor constante, do que ele representava há vinte anos. Quanto ao impacto sobre as economias que um tal preço poderia ter, ele permanece controlável, dentro dos limites, conforme indicou, com razão, o governo francês. Se ele se mantivesse de maneira duradoura a US$ 40, o petróleo iria reduzir o crescimento de um país como a França de 0,2% a 0,5% do seu produto interno bruto (PIB) apenas, segundo os diversos cálculos que foram apresentados. Por certo, a retomada tão esperada de 2% ficaria mais difícil com isso, porém não estaria comprometida. Contudo, alguns países asiáticos, que já se encontram privados de energia, tais como o Japão ou a China, poderiam sofrer mais duramente. De um ponto de vista mundial, o petróleo caro funciona como uma retirada de dinheiro adicional por parte dos países produtores em relação aos países consumidores. Este dinheiro iria para a Rússia, a África e para os países do Golfo, onde ele contribuiria para sustentar economias que dele precisam. O Ocidente poderia esperar tirar proveito indiretamente desse dinheiro explorando, em primeiro lugar, o crescimento desses mercados para neles exportar uma quantidade maior de bens e de serviços, e ainda, sobretudo, porque este enriquecimento poderia diminuir a miséria nos países produtores e apaziguar sociedades superaquecidas. O petróleo caro, provavelmente, não é um fator favorável para as pregações islâmicas. Em todo caso, tudo indica que o petróleo voltou a ficar em evidência nos holofotes da atualidade e assim deverá permanecer por muito tempo. O aumento atual pode ser explicado em parte por um efeito da especulação - a qual é responsável por US$ 10 deste aumento, segundo os analistas -, os mercados mostrando-se preocupados com os atentados na Arábia Saudita. Mas, além disso, o aumento provém de um crescimento da demanda, a qual vem sendo puxada por um forte crescimento nos Estados Unidos e na China, enquanto as capacidades da oferta permanecem limitadas. Por mais que a Opep continue a afirmar que ela vai colocar no mercado a maior quantidade possível do produto, os seus poços já estão sendo exigidos praticamente no máximo de sua capacidade e a sua margem de manobra é muito limitada. Num prazo mais longo, o petróleo continuará caro. Dele, os homens consomem maiores quantidades, porém não conseguem descobrir novas jazidas no mesmo ritmo, apesar das explorações em águas profundas. Contudo, permanece uma certeza: o petróleo estará esgotado antes do final do século. A agência chinesa do meio ambiente acaba de alertar o seu governo, calculando que, se os chineses continuarem copiando o modelo americano (um automóvel para dois habitantes), a necessidade de gasolina será insustentável para o país... e para o planeta. Torna-se, portanto, cada vez mais urgente retomar os programas de economia de energia, desenvolver outros modelos de transportes e promover as outras fontes energéticas, entre as quais a energia nuclear. (Le Monde - Editorial)

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