Acordo entre Brasil e Alemanha é iniciativa de Berlin nao de Brasília
2004-06-08
— É inexplicável a atual omissão do Brasil nesse encontro, escreveu José Walter Bautista Vidal, engenheiro e físico nuclear e ex-Secretário de Tecnologia Industrial do Ministério da Indústria e do Comércio e principal coordenador do PRÓ-ÁLCOOL, em artigo na revista ECO 21. Os dados citados por ele explicam essa frustracao.
— Foi o nosso país a única nação que realizou com sucesso o mais importante programa mundial de substituição de gasolina, graças à criação do Proálcool. A circunstância reflete, igualmente, o profundo retrocesso do Brasil no contexto internacional lembrando que em 1980 - logo após a segunda crise do petróleo ocorrida no ano anterior - na Conferência Mundial de Biomassa, realizada em Atlanta, nos EUA, o programa brasileiro de combustível renovável ocupou mais de 30% do temário, fazendo jus à mensagem inédita, altamente elogiosa, do próprio Presidente Carter, em discurso lido por David Freeman, então Presidente da Tenessee Valley Authority - TVA. Hoje o Brasil ainda é o maior produtor mundial de álcool combustível, embora seu uso - na versão hidratada - esteja em total decadência -menos de 1% dos carros a álcool no ano passado, em comparação com 96%, em 1986, mesmo sendo produzido pela metade do preço do segundo produtor, os EUA, que aplicam um subsídio de 100% de proteção ao álcool, produzido a partir do milho.(ECO21)
Só para lembrar, o professor Emílio la Rovere, da Universidade Federal do Rio de Janeiro apresentou durante a Renewables 2004 um histórico do Pró-álcool, que contabilizou desde a década de 70 a criacao de mais de 700 mil empregos diretos. O acordo assinado durante a Conferência de Bonn entre Brasil e Alemanha na área das energias renováveis foi na verdade um memorando de entendimento, assinado pela ministra de Minas e Energia, Dilma Rousseff, pelo ministro de Meio Ambiente da Alemanha, Jurgen Trittin, e pelo secretário-executivo do Ministério do Meio Ambiente, Claudio Langone, prevendo a troca de informações entre os dois países sobre energias eólica, solar, biomassa, geotérmica e hidrogênio, e ainda quanto à eficiência energética. Sendo um desdobramento da viagem do ministro alemao ao país, em outubro de 2003, o acordo, mesmo sem diretrizes práticas estabelecidas, é muito mais resultado de um esforco do governo de Berlin do que da diplomacia brasileira.