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2004-06-07
Os chamados mercados verdes, formados por empresas que se dedicam a negócios da biodiversidade estão em busca de mecanismos de financiamento que sejam compatíveis com suas necessidades e filosofia de negócio. Com o objetivo de descobrir qual é o caminho das pedras no que tange à captação de recursos e inserção na economia global, representantes de empresas e organizações de países que compõem as regiões dos Andes e da Amazônia (Peru, Equador, Bolívia, Venezuela, Colômbia e Brasil) estão reunidos em Lima, no Peru, no Forum de Investidores para Empresas de Biodiversidade das Regiões Andina e Amazônia Legal do Brasil. O evento é uma iniciativa do Programa New Ventures, da ONG World Resources Institute (WRI) com o apoio do Programa Biotrade das Nações Unidas e da Cooperação Andina de Fomento (CAF), entre outras organizações. Os países querem formar alianças estratégicas para se tornarem mais competitivos e transformar sua vasta riqueza biológica em lucro, de modo que o uso sustentável da biodiversidade auxilie no desenvolvimento econômico dessas regiões. De acordo com o Profonampe, o fundo peruano para áreas naturais protegidas, no Peru os negócios com ativos da biodiversidade crescem em torno de 4% ao ano, mas para assegurar uma participação mais efetiva na economia local, esse crescimento deveria ser da ordem de 8% ao ano. — Ao contrário de negócios que envolvem meio ambiente e que estão mais estruturados, como os projetos de crédito de carbono e energias renováveis, os empreendimentos que usam a biodiversidade ainda são um mercado incipiente sem regras claras, mas com grande potencial se bem organizados, afirma Maria Teresa Szauer, diretora de meio ambiente da CAF. O principal obstáculo para os empreendedores da biodiversidade, geralmente micro e pequenas empresas, é conseguir mecanismo de financiamento para a manutenção de seus negócios a longo prazo. O capital inicial geralmente vem de recursos próprios e do crédito bancário, alternativas que se esgotam quando as empresas almejam a expansão. Os fundos fiduciários para conservação, comumente ligados a ONGs ambientalistas, desempenham um papel importante na obtenção de recursos no estágio inicial de um empreendimento e também nos primeiros passos rumo à expansão. — Os fundos fiduciários para áreas protegidas são uma das alternativas, pois captam recursos junto a grandes fontes, como o Banco Mundial, BID, GTZ e governos, explica Gonzalo Castro, do Global Environment Facility (GEF), que atualmente financia 500 projetos em 150 países. O Fundo Verde Ventures, da ONG Conservation International, tem um orçamento anual de US$ 120 milhões para projetos ligados à biodiversidade, em 40 países. O Brasil foi pioneiro no desenvolvimento, em meados da década de 1990, de um fundo de capital de risco específico para biodiversidade: o Fundo Terra Capital, do extinto banco Axial, sem similares em todo o mundo e que chegou a ter um patrimônio de US$ 15 milhões até ser desativado, no ano passado. As fontes eram o BID, o governo suíço e investidores privados. — Com as crises monetárias do final da década (Rússia, México) e a desvalorização cambial brasileira, os investidores tiveram a percepção de que financiar projetos verdes era risco demais, explica John Forgach, hoje professor da Universidade de Yale e um dos sócios do Banco Axial, na época. Segundo Forgach, no bélico mundo pós 11 de setembro é cada vez mais difícil para as empresas de orientação agroecológica conseguir financiamentos de capital de risco. Os setores de biotecnologia e tecnologia da informação são hoje os preferidos desse tipo de investidor. Mas um dos caminhos apontado por ele é a obtenção de recursos junto a grandes seguradoras, que não querem mais perder dinheiro com catástrofes ambientais e poderão se tornar grandes viabilizadoras de empresas com preceitos de sustentabilidade ambiental. Forgach cita estudo da SwissRe, que estima que as seguradoras já perderam US$ 60 bilhões com o pagamento de sinistros por desastres causados por desequilíbrios ambientais. As chamadas pontes entre pequenos fornecedores de produtos da biodiversidade e grandes corporações, feitas por consultorias especializadas em auditorias financeiras e estratégias de captação de recursos, como a KPMG e a PriceWaterHouseCoopers são uma tendência que deverá tomar corpo nos próximos anos. As consultorias teriam o papel de preparar os empreendedores para o mercado global e fazer a ponte com as grandes empresas, que assinariam com os fornecedores contratos de longo prazo. — Um contrato de fornecimento de insumos para uma grande indústria farmacêutica pelo período de 20 anos equivaleria, para um pequeno produtor agroflorestal, a um financiamento, pois garantiria a perenidade de seu negócio. Essa é uma tendência que deve se fortalecer, explica Marco Antônio Fugihara, diretor da divisão de negócios sustentáveis da PriceWaterHouseCoopers. Mesmo os bancos já abriram os olhos para os negócios com viés socio-ambiental e têm colocado no mercado produtos financeiros voltados para empresas que prezam os valores da sustentabilidade. kicker: Faltam mecanismos de financiamento para apoiar os negócios de longo prazo (GM 04/06)

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