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2004-06-02
Os negócios vão de vento em popa na zona mineradora do República Democrático do Congo (antigo Zaire) que forneceu o urânio para as bombas atômicas que explodiram sobre Hiroshima e Nagasaki - apesar de um decreto presidencial banindo as atividades de mineração no local. O presidente Joseph Kabila mandou fechar essas áreas três meses atrás, em meio a temores cada vez maiores de que materiais nucleares não regulamentados estivessem caindo nas mãos dos chamados Estados párias ou dos grupos terroristas. Apesar disso, a 1.500 km da capital, Kinshasa, milhares de mineiros continuam escavando uma cavidade escura no solo em Shinkolobwe, vilarejo no sudeste do país, enchendo sacos e sacos com uma terra negra rica em cobalto, em cobre e, principalmente, em urânio radioativo. A mineração ilegal fornece evidências da falta de controle que o terceiro mais extenso país da África tem sobre suas próprias fontes nucleares, sublinhando a fragilidade da autoridade governamental fora da capital do país, depois da devastadora guerra que se estendeu de 1998 a 2002. — Eles estão cavando o mais rápido que podem. E todo mundo está comprando o produto, afirma John Skinner, um engenheiro de minas da cidade vizinha de Likasi. — O problema é que ninguém sabe aonde vai parar tudo isso. Não há nenhum controle. O urânio é na verdade um prêmio adicional inesperado ao alvo real dos mineiros: o alto índice de cobalto, em concentrações lucrativas. Além disso, não há indícios de que o urânio esteja sendo desviado para terroristas. Os EUA, que pressionaram Kabila a fechar a mina, disseram em março que não havia movimentos preocupantes em Shinkolobwe. Mas alguns especialistas em proliferação nuclear se preocupam com a total falta de controle do local, advertido de que mesmo poucas quantidades podem ser desviadas para usos nocivos. Os veios de Shinkolobwe foram descobertos em 1915, quando o Congo era uma colônia belga. A descobertas deram impulso à era nuclear, pois deram muito do urânio usado nas bombas que os EUA jogaram sobre o Japão em 1945. Shinkolobwe deixou de ser lucrativa e fechou em 1960, segundo o ministro das Minas do Congo, Diomi Ndongala. As autoridades belgas, aparentemente preocupadas com a segurança da mina, preencheram boa parte dela com concreto. A guerra civil e o caos trouxeram mineiros de volta em 1998. Eles cavam novos túneis a apenas umas centenas de metros da velha e enferrujada fábrica de urânio. — Kabila tomou atitudes contra a mina em fevereiro, para proteger o ambiente, a população e, por fim, o mundo, contra a ameaça do terrorismo, diz Ndongala. Entretanto o banimento da atividade mineradora nunca foi levado a cabo. Ndongala afirma que há planos para retirar à força os mineiros de Shinkolobwe, mas a falta de recursos do governo o impede de executá-los. Talvez contribua para isso o pouco incentivo real. A mineração é um grande negócio no Congo. Autoridades não dão dados da indústria de cobalto, mas as exportações totais -incluindo cobalto, diamantes, cobre e café- passaram de US$ 1 bilhão em 2002.(Valor)

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