Espião nuclear diz que queria evitar novo holocausto
2004-06-01
O ex-técnico nuclear preso por 18 anos por revelar segredos de Israel afirmou que estava tentando evitar um holocausto nuclear. Em sua primeira entrevista desde que foi libertado, Mordechai Vanunu disse que não se sente um traidor. — Senti que isso não se tratava de traição. Era sobre informação, era sobre salvar Israel de um novo holocausto, disse o espião à BBC. Durante a entrevista, Vanunu também garantiu que não se arrepende do que fez. — Não tenho remorso, apesar do fato de eu ter pago uma dura pena, um alto preço, afirmou. As opiniões sobre Vanunu dividem os israelenses: alguns acusam o ex-técnico nuclear de ter traído o país, outros consideram Vanunu um herói da paz por ter revelado detalhes do programa clandestino de armas nucleares de Israel. Ao libertar Vanunu em abril, as autoridades israelenses proibiram o ex-técnico nuclear de deixar o país, encontrar-se com estrangeiros ou revelar segregos sobre a usina nuclear Dimona. — O que eu fiz foi informar o mundo sobre o que está acontecendo em segredo. Eu não disse que nós deveríamos destruir Israel, destruir Dimona. Eu disse: vejam o que eles têm e façam seu julgamento, afirmou Vanunu na entrevista à BBC, realizada por uma jornalista israelense. — Eu quero deixar Israel, não estou interessado em viver em Israel. Quero começar minha nova vida nos Estados Unidos, ou em algum lugar na Europa, e começar a viver como um ser humano. Vanunu foi seqüestrado por agentes israelenses na Itália em 1986, após a publicação de uma entrevista em que o espião revelou segredos nucleares de Israel ao jornal britânico Sunday Times. O ex-técnico nuclear afirma que uma agente secreta o atraiu de Londres para Roma e distraiu sua atenção durante a viagem de carro. — Nós nos sentamos no banco de trás. Ela usou o tempo para me beijar, distrair minha atenção com muitos beijos, diz Vanunu. Em Roma, o espião foi rendido e drogado para, em seguida, ser enviado de volta a Israel para um julgamento em segredo. Vivendo agora na catedral anglicana de São Jorge, em Jerusalém, Vanunu é proibido de utilizar a internet ou telefones celulares e não pode se aproximar de embaixadas ou fronteiras. O vice-primeiro-ministro de Israel, Joseph Lapid, defendeu as restrições impostas pelo governo israelense para a libertação de Vanunu.
— Acreditamos que ele ainda sabe segredos e não queremos que ele os venda de novo, disse Lapid. — Acreditamos que há coisas que ele sabe e ainda não revelou. Ele pode fazer isso. Ele está firmemente decidido a prejudicar esse país, ele odeia esse país, acrescentou o vice-primeiro-ministro. No início da semana passada (23/05), o jornalista britânico Peter Hounam, que escreveu a reportagem original do Sunday Times, foi detido em Tel Aviv e mantido sob custódia por um dia.(BBC)