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2004-05-28
A responsabilidade de empresas sobre todo o ciclo produtivo foi tema de uma das palestras do VI Simpósio Internacional de Qualidade Ambiental, que traz à pauta diversas discussões sobre qualidade ambiental e responsabilidade social. Na tarde de segunda-feira (24/05), a assessora técnica do Idec, Lisa Gunn, falou sobre os diversos aspectos que precisam ser melhor pensados quando se fala em consumo responsável, especialmente da relação desigual de poder de consumo no Brasil. Segundo Lisa Gunn, os desafios de se trabalhar com consumo responsável num país que tem a quarta pior distribuição de renda no mundo são muitos, e é preciso ter sempre essa realidade em mente quando se discute o tema. Mesmo assim, ela afirma que o consumidor brasileiro está mais consciente sobre o caráter ético e político - e não apenas de satisfação pessoal - que está embutido no ato do consumo.
Nos últimos cinco anos, o Idec tem trabalhado com o conceito de responsabilidade estendida ao produtor, considerando fundamental distribuir a responsabilidade sobre o passivo ambiental produzido pelo consumo no país, hoje pago quase totalmente pelo poder público. — A responsabilidade estendida não significa jogar os custos de reciclagem e destinação final para o produtor, mas racionalizar o processo - afirma Gunn. — Uma vez que é o produtor quem decide quais matérias, processos e formatos serão empregados, responsabilizá-lo significa incentivar a mudança desses fatores para modelos mais sustentáveis. Ela aponta que existem três tipos de responsabilidade creditadas as empresas produtoras e prestadoras de serviços: econômica, física e de informação. Assim, o produtor deve ser responsável por cobrir parte ou o total dos custos de reciclagem e destinação final, que são hoje totalmente custeados pelos Municípios e Estados. — É uma questão de distribuir esses custos de forma mais justa, já que hoje inclusive aqueles que não consomem pagam os custos do pós-consumo, na forma de impostos. As empresas também podem ser responsáveis pela gestão física desses sistemas, já que elas dominam as tecnologias de produção. Além disso, elas têm o dever de informar não só sobre os usos dos produtos, mas sobre todos os seus impactos.
Para Gunn, sistemas mais sofisticados de responsabilização encontram dificuldades de implementação porque não se tem feito uma discussão eficaz em todos os meios sobre princípios de precaução e viabilidade econômica. — Não podemos apenas culpar as empresas por não se responsabilizarem pelo ciclo de vida de seus produtos, temos que olhar também para nossa cultura de consumo. Todos são responsáveis, empresas, consumidores e poder público, apenas são responsabilidades diferenciadas, conclui.
O trabalho do Idec
O tema tem sido incluído inclusive nas análises que o Instituto faz periodicamente de produtos disponíveis para o consumo. Tem-se procurado avaliar além da segurança do produto em si, os impactos ambientais e na saúde do ciclo de vida, desde o processo produtivo até o descarte. Entretanto, Gunn diz que o Idec não consegue fazer análises completas, porque falta informação sobre metodologias adequadas para essas análises mais complexas, além de apresentar custos mais elevados. Lisa Gunn disse que o Idec tem buscado realizar ações de educação para os consumidores, mas também de defesa dos seus interesses. — Não basta dizermos para as pessoas deixarem o carro em casa e utilizarem mais o transporte público se esse é ineficiente, aponta. (Ecoagência, 27/05)

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