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2004-05-27
O diretor alemão Roland Emmerich parece realmente arrependido de ter realizado O Patriota, filme estrelado por Mel Gibson que enfureceu o mundo por sua temática fascistóide - em particular os ingleses, que são pintados como assassinos psicopatas que matavam qualquer um a sangue frio durante a guerra civil estadunidense. Tanto é que em seu novo filme, O Dia Depois de Amanhã, o grande vilão da trama é justamente o governo dos EUA tratado como criminoso por negligenciar os atuais problemas de aquecimento global causados pela emissão de poluentes na atmosfera. O cientista encenado por Dennis Quaid (de Inimigo Meu e Traffic) chega até a bater boca com o vice-presidente de seu país durante uma conferência internacional onde apresenta evidências de que uma catástrofe climática está para acontecer. Mas a alfinetada vai mais longe. Depois que a mãe natureza começa a reagir contra a destruição causada pelo homem provocando imensos tornados que destroem a cidade de Los Angeles e enchentes capazes de afundar Nova York, só resta aos estadunidenses fugir para a parte de baixo do continente, onde ainda é quente. Esse comentário ácido contra o desdém dos EUA em relação aos seus vizinhos do sul encontra seu ponto máximo na cena que mostra os imigrantes ilegais americanos sendo impedidos de cruzar as fronteiras do México, numa inversão total do que existe hoje, e em um surpreendente discurso do presidente estadunidense que pede desculpas pelos maus tratos causados aos povos dos paises do dito terceiro mundo sem os quais seu povo estaria agora condenado. Pena que Emmerich não foi capaz de balancear todos esses comentários irônicos e pertinentes contra o governo dos EUA com uma trama mais rica e emocionante. Se as catástrofes naturais são mostradas com eficiência, o mesmo não pode se dizer do resto do filme. É evidente que o diretor tentou fazer uma espécie de O Destino do Poseidon em clima de fim do mundo, onde as tragédias grandiosas dão lugar ao drama intimista dos personagens. Mas, mesmo seguindo à risca essa fórmula consagrada dos disaster-movies, O Dia Depois de Amanhã peca justamente por trazer personagens rasos e desinteressantes interpretados por atores muito fracos (com destaque negativo para o inexpressivo trio de jovens que estão presos em Nova York). A gente nunca se importa, muito menos se emociona com o destino deles. Assim, terminadas as tomadas de destruição geradas por efeitos especiais de última geração (que acontecem cedo e um pouco rápido demais) sobra quase nada na tela, transformando O Dia Depois de Amanhã numa espécie de Impacto Profundo às avessas, onde só inverteram a ordem de ocorrência dos cataclismas. Não chega nem aos pés de Independence Day que mesmo sendo absurdo era repleto de ação e trazia personagens unidimensionais, sim, mas ao menos interpretados por gente mais carismática. Aqui nem ação existe e o filme chega a ficar chato no terceiro ato, ao ponto de inventarem uma seqüência onde os protagonistas são atacados por alguns lobos digitais bem inconvincentes na tentativa de gerar alguma tensão e adrenalina. Soma-se a tudo isso uma conclusão boba e sem o menor impacto e temos aí mais uma superprodução que vai gerar algum lucro por causa da grande campanha de marketing, mas certamente começará a sumir da sua memória assim que sair do cinema. Ao menos as intenções do projeto são boas (ainda mais vindas da Fox, grupo notório por apoiar sem restrições o governo de Bush Júnior). Por isso e por algumas boas cenas repletas de efeitos especiais, O Dia Depois de Amanhã merece algum respeito. Mas, assim como aconteceu com o malfadado Godzilla, não será dessa vez que Roland Emmerich vai recuperar seu posto de novo rei dos disaster-movies. O Dia Depois de Amanhã estréia na Quinta-feira (27/05) na Europa e na Sexta-feira na América Latina.(Cidade Internet)

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