COLÔMBIA TENTA EVITAR EXTINCAO DA SUA FLOR NACIONAL
2004-05-14
Em um espaço de 250 metros quadrados de jardim de sua casa, na cidade de Medellín, Carlos Sánchez, engenheiro industrial aposentado, desfruta diariamente do prazer de ver crescer centenas de orquídeas Cattleya trianae, a flor nacional da Colômbia e uma das espécies mais ameaçadas pelos depredadores e pela urbanização. Sánchez, membro da Sociedade Colombiana de Orquideologia, tem em seu jardim cerca de cinco mil orquídeas, em sua maioria Cattleya trianae, que conseguiu reproduzir e conservar com a técnica de co-participação, aprendida com seus avós no campo. — Para a reprodução, divide-se uma planta adulta em vários pedaços, cuidando para que cada parte tenha pelo menos quatro ou cinco folhas, e os coloca para germinar, explicou. Sánchez afirma que com este processo artesanal demora quatro anos para a planta florescer, enquanto com a técnica in vitro, usado pelos especialistas em laboratório, a demora chega a sete anos. A Cattleya trianae encontra-se em risco de extinção porque seu hábitat foi destruído, mas uma grande quantidade de instituições e pessoas trabalha para evitar que esta espécie desapareça. Entre essas instituições está a Sociedade Colombiana de Orquideologia, com sede na cidade de Medellín, fundada há 40 anos e com cerca de 180 filiados, que promovem o estudo, o cultivo, a conservação e a hibridação das orquídeas, além de atuar perante organismos governamentais em favor de ações para conservar e recuperar os ecossistemas nos quais estas espécies se desenvolvem. Por outro lado, a Fundação Orquídeas de Tolima, departamento do centro do país, mantém um orquidário onde é possível apreciar 150 espécies já extintas em seu hábitat e outras que estão em vias de extinção, entre elas a flor nacional. Essa Fundação é uma organização não-governamental, criada há 12 anos, que tem entre seus objetivos a educação ambiental e a sensibilização de centenas de visitantes, que recebe diariamente, para que se comprometam com a conservação da espécie. Na capital colombiana, a recuperação da Cattleya trianae é liderada pelo Jardim Botânico de Bogotá (JBB), onde se mantém a maior produção in vitro dessa orquídea. O processo é iniciado por biólogos, que buscam em seu meio semente ou exemplares germinados que reúnam as condições necessárias para sua reprodução em laboratório. Ali, através de um longo processo, são imitadas as condições naturais para a germinação até obter o material desejado. Segundo especialistas do JBB, essa instituição conta com material suficiente para gerar milhares de plantas, mas é preferível mantê-las em espaços semi-naturais onde sua conservação possa ser garantida. As Cattleya trianae têm esse nome em homenagem ao botânico inglês William Cattley (1788-1835) e fazem parte da família das orquidáceas, que florescem no trópico americano. A Cattleya trianae, originária da Colômbia, é uma planta epífita (que não precisa da terra) nativa dos centrais departamentos de Tolima, Huila e Cundinamarca. Sua diversidade inclui 15 cores de flores. As orquídeas são plantas herbáceas que se caracterizam por terem belas flores. As que crescem em pedras são chamadas litófilas. As epífitas crescem sobre as árvores, mas não são parasitas, e há também as terrestres. As orquídeas nascem na Colômbia do litoral até as altas montanhas, mas a zona onde mais aparecem está entre 1,8 mil e 2,5 mil metros acima do nível do mar. A bióloga Manuela Herrera, da estatal Universidade do Atlântico, diz que a Cattleya trianae é uma das três mil espécies de orquídeas encontradas na Colômbia, que representam cerca de 10% das descobertas em todo o mundo. — A flora é a primeira grande riqueza da Colômbia, que possui entre 45 mil e 55 mil espécies de plantas, das quais cerca de um terço são endêmicas (só nascem nesse país), explicou. Esta alta biodiversidade é muito vulnerável à ação depredadora dos humanos sobre seu hábitat, e cerca de dez mil espécies estão ameaçadas, com uma situação especialmente grave para as orquídeas, destacou a especialista. — Desde o final do século XIX, barcos carregados de Cattleya seguiam da América para a Europa com destinadas à nobreza, e somente 5% dos carregamentos conseguiam chegar ao seu destino.(Terramérica)