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2004-05-14
As organizações ambientalistas estão em guerra com o herbicida paraquat, considerado nocivo para o meio ambiente e a saúde humana, mas esse químico sintético é vendido e usado sem nenhuma restrição na América Central. Na região são registradas 400 mil intoxicações anuais com pesticidas, e o paraquat, cujos produtores alegam ser inofensivo se usado com as devidas precauções, lidera a lista de agroquímicos conhecidos por seus graves efeitos. Porém, pode ser comprado inclusive por crianças, afirma o ativista e pesquisador Hernán Hermosilla, da organização Fórum Emaús, que trabalha contra o paraquat na Costa Rica e apóia iniciativas regionais com a mesma atenção. — O paraquat continua sendo usado nos países centro-americanos porque é efetivo contra as pragas, e, sobretudo, por motivos comerciais, afirmou Hermosilla. No mercado regional circulam 39 produtos contendo paraquat ou seus derivados, como os chamados Gramoxone, Chapeador, Atila, Graminex, Serquat, Escopeta, Ultragrass, Fuego e Ator. Os agricultores o utilizam em cultivos distintos como os de algodão, café, palma africana, arroz, cana, cacau e banana, sem considerar seus efeitos ambientais, especialmente sobre o solo, e o perigo que representa para a saúde. O paraquat é um agrotóxico persistente que depois de sucessivas aplicações tende a ficar acumulado na terra. Tem uma média longa de vida no solo: de 16 meses (estudos em laboratórios, condições aeróbicas) a até 13 anos (estudo de campo), segundo pesquisa do Fórum Emaús. A exposição a esse produto por ingestão, inalação ou via cutânea pode causar, a longo prazo, insuficiência renal, hepática e cardíaca, bem como cicatrizes nos pulmões e estreitamento esofágico. Não existe antídoto para o herbicida. Estudos com trabalhadores agrícolas de Taiwan e da Costa Rica também vincularam o paraquat com o câncer de pele, segundo a pesquisadora Katharina Wesseling, do Instituto Regional de Substâncias Tóxicas (Iret) da Universidade Nacional da Costa Rica. O Iret apresentou, na última semana de abril, um relatório regional sobre o uso do paraquat sem mecanismos adequados para a proteção dos agricultores, em sua maioria pequenos e médios. Seria necessário que os trabalhadores usassem traje especial e máscaras, e que os aparelhos de bombeamento usado para espalhar o produto não tivessem vazamentos, explicou Hermosillas. — É quase impossível que pequenos e médios produtores tenham os equipamentos adequados. Para eles, é como se tivessem de comprar um traje de astronauta, e, mesmo com as devidas precauções, não seria absolutamente seguro utilizar paraquat, ressaltou. Dados da Rede de Ação em Pesticidas e suas Alternativas para a América Central (Rapac) indicam que, em médias anuais, cada nação da área registra cerca de 200 mortes por intoxicação com agroquímicos, e investe US$ 7 milhões em ajuda aos afetados. Se a isso somar-se os gastos das famílias dos intoxicados e o custo dos dias não trabalhados pelos doentes, o número anual pode ser de US$ 19 milhões, segundo cálculos de Mauricio Sermeño, da Unidade Ecológica Salvadorenha. Em El Salvador existe uma média de 20 mil intoxicações anuais por paraquat, mas os registros oficiais indicam muito menos, garantiu Sermeño. A Organização Panamericana de Saúde, em pesquisa sobre o uso de pesticidas na América Central, concluiu que, para cada caso registrado de intoxicação com esses produtos, existem entre 80 e 99 não notificados. A Rede de Ação em Pesticidas e suas Alternativas da América Latina (Rapal) desenvolve uma intensa campanha para conseguir a proibição do paraquat na região. Na América Latina, o único país que estabeleceu restrições para o paraquat é o Chile, onde não pode ser aplicado por via aérea. Empresas multinacionais como Chiquita e Dole, que produzem banana no istmo, deixaram de usar o paraquat em outubro de 2001. A Suécia o proibiu em 1983, sendo seguida por Áustria, Dinamarca, Finlândia, Hungria e Eslovênia. Em 2002, a Malásia se incorporou ao grupo de países que declararam guerra a esse herbicida, indicou o jornalista e pesquisador John Madeley, em seu relatório especializado intitulado O controvertido herbicida da Syngenta, a distribuidora mundial do paraquat. A Syngenta absorveu a companhia Zeneca, que era a principal produtora do paraquat. Atualmente, o pesticida é produzido em grandes quantidades na China, onde a empresa conta com uma grande fábrica, informou Madeley. A salvadorenha Comissão Nacional de Pesticidas estuda a possibilidade de restringir o uso de vários agroquímicos, entre eles o paraquat. Contudo, para que a situação mude é imprescindível a pressão da cidadania sobre os políticos, destacou Sermeño.(Terramérica)

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