FILME SOBRE MUDANCA CLIMÁTICA É EQUIVOCADO, MAS ÚTIL, DIZEM CIENTISTAS
2004-05-14
O filme O Dia Depois de Amanhã ignora as leis da física e é repleto de referências científicas equivocadas, segundo a opinião de especialistas britânicos. Muitos deles, entretanto, acreditam que o filme é uma forma positiva de chamar a atenção para o problema da mudança climática. O maior conselheiro científico do governo britânico, David King, disse esperar que vários norte-americanos comuns vejam o filme. O antigo vice-presidente americano Al Gore disse que os riscos que o filme apresenta são uma ameaça para o futuro de todos nós. King descreveu o O Dia Depois de Amanhã como um filme de ação espetacular que mostra a interrupção da corrente do Golfo e, como conseqüência, o hemisfério norte entra em uma nova era glacial. Os cientistas concordam que a mudança climática pode enfraquecer a circulação térmica, o fenômeno que impulsiona a corrente do Golfo, mas não esperam que ela cause uma interrupção completa como no filme. King disse que a atual concentração global de dióxido de carbono na atmosfera, de 379 partes por milhão, é a maior dos últimos 420 mil anos, sendo significativamente mais alta do que em períodos quentes anteriores. Isso não significa que a circulação térmica, que eleva a temperatura de parte da Europa em 5ºC, cessaria por completo. Pelo menos não tão rapidamente quanto foi mostrado no filme. — O filme mostra os eventos acontecendo em um período de poucas semanas. Se isso acontecer, vai levar décadas ou séculos, disse o cientista. — A história mostra os desenvolvimentos acontecendo em uma velocidade improvável, ou mesmo impossível. Mas ele diz que, enquanto uma explicação científica sobre mudanças climáticas levaria muito tempo para ser dada, o filme transmite a mensagem em poucas linhas de diálogo. — É um belíssimo exemplo de roteiro. Espero que o público americano veja o filme. É muito importante que tomemos consciência do que a ciência está dizendo, e isso inclui os políticos americanos. Ele disse que 21 mil pessoas morreram a mais durante a onda de calor que envolveu a Europa em 2003 --atribuída à mudança climática--, mas poucas pessoas fizeram essa conexão. O cientista disse que existe um problema ao dramatizar esse tipo de evento porque, mesmo quando eles acontecem na vida real, parece que nós não os notamos. Geoff Jenkins, chefe de previsão climática do Centro Hadley de pesquisa, disse que esse é apenas um filme e Hollywood não iria investir dinheiro em um grupo de cientistas discutindo incertezas. Jenkins disse que um colapso da circulação térmica é um evento de baixa probabilidade, mas de alto impacto. Ele disse que os cientistas não saberia afirmar quão baixa é essa probabilidade, e em princípio, ela poderia acontecer. O cientista David Viner, da Unidade de Pesquisa Climática da Universidade de East Anglia, na Grã-Bretanha, disse que o filme aborda vários detalhes erroneamente, mas informa sobre mudanças climáticas. — O que é uma coisa boa. (BBC)