IFC QUER O MICROCRÉDITO VINCULADO À PREOCUPAÇÕES AMBIENTAIS
2004-05-10
A International Finance Corporation (IFC), afiliada do Banco Mundial voltada para o financiamento do setor privado, reuniu quinta-feira (06/05) em São Paulo quinze entidades de microcrédito da América Latina com as quais opera para discutir a preocupação sócio-ambiental em seus negócios. A América Latina concentra 40% dos cerca de US$ 35 milhões destinados pela IFC para o microcrédito em todo o mundo. No Brasil, é sócia com 25% ou US$ 1,25 milhão do capital da Microinvest, sociedade de crédito ao microempreendedor (SCM), controlada pela Fininvest, braço de financiamento ao consumo e de atendimento à população de baixa renda do Unibanco. Mas estuda outras parcerias, informou a especialista sênior em questões ambientais da IFC, Josefina Doumbia. Outro especialista da IFC, Gordon Beanlands, afirmou que a preocupação com as questões ambiental e social não é um luxo desde que casos como a contaminação de Bhopal, na Índia, mostraram que um passivo ambiental pode arruinar um negócio. Mesmo sem um desastre como esses no horizonte, esse tipo de consciência ajuda a poupar mais e ganhar mais, na medida em que leva a economizar combustível e adotar a reciclagem, por exemplo. José Luiz Ricca, diretor superintendente do Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) de São Paulo, que também apoiou o seminário, lembrou que, no Brasil, 61% dos microempreendedores não recorrerem ao crédito e 51% só o usariam se fosse mais fácil e barato. Calcula-se que existam 4,5 milhões de microempresas no país, das quais 1,3 milhão são formais e apenas 200 mil a 300 mil têm acesso a serviços financeiros. Para Carlos Ximenes, diretor da Microinvest, o principal problema do microcrédito no Brasil não é o juro ou a falta de funding mas sim chegar de forma eficiente ao microempreendedor. Inicialmente, o único canal de distribuição da Microinvest eram seus agentes. Mas o negócio sofreu uma reforma no ano passado e o microcrédito passou a ser oferecido em três canais. Um deles é a Fininvest, que tem 116 lojas e mais 60 de outra financeira, a Creditec, adquirida neste ano. — Nós descobrimos que muitos clientes da Fininvest são microempreendedores que estavam se financiando com crédito pessoal e poderiam obter recursos a taxas menores, disse Ximenes. A linha de microcrédito sai por 3,6% a 4,2% ao mês. Os recursos também estão sendo oferecidos em associações de bairros e parcerias especiais, como a feita com a Copagás, tem uma frota de 32 caminhões para distribuir gás na zona sul de São Paulo, que agora também está habilitada a oferecer crédito. A Microinvest tem uma carteira de R$ 1 milhão e, em cinco anos, emprestou R$ 7 milhões a 4,3 mil clientes, em operações de valor médio de R$ 1,5 mil. Ximenes está particularmente entusiasmado com o avanço dado em sete lojas da Fininvest (quatro em Porto Alegre e três em São Paulo), que já podem oferecer conta corrente para os clientes, movimentada por cartão, e pagar benefícios do INSS. Segundo ele, esse é só o começo em um projeto de oferta ampla de produtos de microfinanças. (Valor, 10/05)