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2004-05-07
Os alimentos transgênicos chegaram. E parecem que vieram para ficar. Apesar da polêmica em torno de sua segurança para a saúde humana e do impacto dessas safras sobre o meio ambiente, plantações transgênicas já são feitas em 16 países, cobrindo 60 milhões de hectares, área cerca de seis vezes maior que a de Portugal. Para esclarecer uma série de questões sobre o assunto, Ciência Hoje entrevistou Gabrielle Persley, renomada autoridade na área de biotecnologia e consultora de instituições como o Conselho Internacional para a Ciência (ICSU) e o Banco Mundial. Doutora em microbiologia, ela trabalhou por anos como patologista de plantas em centros de pesquisa na Austrália e África. Seu interesse atual é o papel da biotecnologia nos países em desenvolvimento. Persley foi a relatora de New Genetics, Food and Agriculture (Nova Genética, Alimentos e Agricultura), documento lançado ano passado pelo ICSU que analisa os principais resultados de cerca de 50 revisões científicas sobre alimentos transgênicos elaboradas por agências públicas e privadas de vários países. O relatório -- talvez, o mais amplo até agora sobre o tema -- foi bem recebido por cientistas, organizações não governamentais, agricultores e indústrias produtoras de sementes e alimentos transgênicos. Persley, que é presidente e diretora da Fundação Doyle (Escócia), concedeu esta entrevista à Ciência Hoje desde Nairóbi (Quênia), onde está ajudando a implementar uma rede de centros de excelência voltada para o desenvolvimento das biociências em países da África Oriental e Central.
Talvez, do ponto de vista de um cidadão comum, a pergunta mais importante seja: os alimentos transgênicos são seguros para a ingestão? O cultivo comercial de safras transgênicas começou em 1995. Desde então, houve tempo suficiente para testar a segurança dessas safras para a saúde humana?
Sim. Os alimentos transgênicos que se encontram atualmente no mercado são seguros para a saúde humana. A segurança deles tem sido extensivamente testada por métodos aprovados pela FAO [Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação] e pela OMS [Organização Mundial da Saúde]. Além disso, eles têm sido consumidos por milhões de pessoas nos últimos anos, sem que efeitos colaterais tenham sido notificados. Essa quase uma década que se passou desde o início do cultivo comercial foi suficiente para demonstrar a segurança da chamada primeira geração de safras transgênicas, que estão sendo atualmente cultivadas em 16 países, cobrindo uma área de aproximadamente 60 milhões de hectares. Porém, vale ressaltar, futuros desenvolvimentos com base nessa nova tecnologia terão que ser analisados caso a caso.
A senhora poderia dar uma idéia sobre quantos tipos de alimentos transgênicos estão atualmente no mercado? Como será a próxima geração de alimentos transgênicos?
Atualmente, as maiores aplicações dessa nova tecnologia ocorrem em quatro tipos de plantios -- milho, soja, algodão e canola – e que são dotados de duas características: resistência a insetos e tolerância a herbicidas. O leitor interessado poderá encontrar mais detalhes no sítio da internet do ISAAA [sigla, em inglês, para Serviço Internacional para a Aquisição de Aplicações Agrobiotecnológicas]. As próximas gerações de alimentos transgênicos trarão melhorias em seu conteúdo nutricional, apresentando mais vitaminas e/ou proteínas. A qualidade e o sabor deles também serão melhorados. Por exemplo, arroz com mais vitamina A e mandioca com menos toxinas, só para citar dois exemplos. (Ciência Hoje 203)

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