MILHO TRANSGÊNICO GANHA ESPACO NA AMÉRICA CENTRAL
2004-04-19
Na América Central, onde o milho se originou há cerca de nove mil anos, Honduras é o único país que permite a produção comercial de variedades transgênicas dessa gramínea. Ali, fontes oficiais afirmam que os que rejeitam esses cultivos o fazem por desinformação ou por acreditarem que se relacionam com bruxaria. Contudo, a bateria de argumentos contra tal plantação é muito mais complexa, e inclui argumentos científicos sobre os riscos que pode representar para os ecossistemas, a segurança alimentar e a cultura da região. — As variedades transgênicas apenas geraram benefícios para Honduras, disse Francisco Gómez, um dos porta-vozes do estatal Instituto de Informação Agropecuária desse país, que em 2003 autorizou a plantação comercial do milho modificado. Cerca de dois mil dos 350 mil hectares hondurenhos dedicados ao milho estão ocupadas por variedades geneticamente modificadas. — A oposição a esses cultivos se deve à desinformação e ao fato de muita gente acreditar que os transgênicos têm relação com a bruxaria, mas só o que fazemos é acelerar e melhorar as produções, afirmou Gómez. No México, onde há um amplo debate sobre o assunto, a bruxaria certamente não foi um dos argumentos utilizados. Nesse país, a controvérsia vem aumentando de tom desde 2001, quando se anunciou que o milho transgênico, que por uma lei de 1999 não pode ser cultivado, contaminou seu parente natural. Para grande parte dos habitantes da América Central, a gramínea é um ingrediente básico da dieta, e tradições pré-hispânicas afirmam que foi usada pelos deuses para fazer o primeiro homem. O milho é cultivado, anualmente, em cerca de oito milhões de hectares no México, 60% deles por pequenos agricultores que o semeiam para consumo próprio. Por considerar que a contaminação do milho é um assunto de importância vital, a Comissão para a Cooperação Ambiental na América do Norte (CCA) decidiu, em 2002, iniciar uma ampla pesquisa a respeito, cujos resultados são esperados para junho. Entretanto, ainda não se sabe se os governos sócios da CCA (Canadá, Estados Unidos e México) tornarão públicas essas conclusões. — O problema da introdução de variedades transgênicas em regiões de diversidade genética é que as características dos grãos geneticamente modificados se estendem para as variedades locais que os pequenos agricultores costumam semear, e isso poderia diluir a sustentabilidade natural dessas espécies, diz um dos relatórios preliminares da Comissão. — Outro elemento a considerar é que o milho transgênico conta com toxinas para repelir pragas, que poderiam se deslocar através das cadeias alimentares dos insetos, gerando graves implicações para o controle biológico natural nos campos de cultivo, acrescenta. O Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente também considerou o caso do milho mexicano. No relatório GEO América Latina e Caribe 2003, refere-se ao assunto ao mencionar as possíveis conseqüências ambientais da contaminação transgênica.(Terramérica)