(29214)
(13458)
(12648)
(10503)
(9080)
(5981)
(5047)
(4348)
(4172)
(3326)
(3249)
(2790)
(2388)
(2365)
2004-04-16
por Carlos Tautz
As crises vão exigindo que o governo Lula mostre, afinal, que projeto ele tem para o Brasil. Projeto de governo para a área econômica e financeira ele certamente possui: limita-se a aprofundar a estratégia do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Agora, projeto de Nação, que é a proposta do presidente para os rumos do Brasil e sua sociedade, ele nunca apresentou. Aos poucos, quem o apoiou e participou da elaboração de seu programa de governo, como os movimentos sociais do abril vermelho, se pergunta: Lula para quê ? Em algum momento ele terá de responder a essa pergunta. É provável que o presidente e o núcleo decisório de seu governo não se dêem conta, mas o momento da resposta está chegando. E a galope. Aliás, a ocupação por 2500 integrantes do MST no dia 5 de abril de uma fazenda produtora de eucalipto para celulose indica que talvez o momento já tenha chegado. Por detrás daquela ocupação na planta industrial da empresa Veracel, no sul da Bahia, perto de Porto Seguro, está o questionamento do modelo de agricultura que Lula escolheu, para exportar e gerar os bilhões de dólares do superávit fiscal primário prometido ao FMI. Ao mesmo tempo em que destina R$ 5 bilhões para 20 milhões de agricultores familiares, defendidos pelo MST e seus aliados, o governo Lula financia com juros de mãe para filho a planta da Veracel. Só essa unidade industrial custou R$ 2,5 bilhões.
Vai gerar apenas mil empregos diretos quando entrar em operação. O que os movimentos sociais perguntam a Lula é: o senhor deseja fazer a reforma agrária, estimular a produção de alimentos para atender aos milhões que passam fome no Brasil e, assim, nos garantir segurança alimentar e nutricional ou pretende dar outra destinação às terras brasileiras ? Afinal, para alcançar o superávit do FMI a opção estratégica pelo negócio agrícola de exportação significa colocar em segundo plano as reivindicações dos movimentos sociais e incentivar as três principais monoculturas em larga escala, para venda no exterior. É a santíssima trindade da soja, da cana de açúcar e do eucalipto.As culturas líderes do agribusiness que encanta o coração de Lula apenas geram dólares para seus produtores – e nenhum deles é pequeno nem produz para atender prioritariamente ao mercado brasileiro. Elas empobrecem o solo onde são implantadas, exigem enormes quantidades de água para serem produtivas e diminuem drasticamente a diversidade de espécies nas áreas próximas. Emprego que é bom produzem muito menos do que fariam os agricultores familiares se dispusessem dos mesmos recursos. O caso da monocultura de árvores para produção de celulose não é o pior dos três, mas é particularmente o mais dramático. E é aquele que, como mostra a ocupação do MST na Bahia, deve ser o primeiro a exigir as tais repostas cruciais de Lula. Pela imensidão das regiões impactadas, a monocultura para celulose foi classificada pelo falecido ambientalista capixaba, Augusto Ruschi, de deserto verde. Onde existe eucalipto e pinus, a principais espécies da indústria celulósica, nenhuma outra árvore sobrevive, os pássaros são poucos, as nascentes secam e os agricultores ficam sem terra para plantar naquele solo do qual seus antepassados retiravam os alimentos orgânicos que garantiam a vida digna de toda a família.Plantada em larga escala no Rio Grande do Sul, norte do Espírito Santo e do Rio de Janeiro, sul da Bahia e em Minas Gerais, a monocultura do pinus e do eucalipto é acusada por organizações não governamentais, sindicatos de trabalhadores rurais, comunidades remanescentes de quilombos e muitas outras entidades populares de estar associada a desrespeito da legislação ambiental e dos direitos humanos. A Assembléia Legislativa do Espírito Santo há dois anos descobriu sérios indícios de que a maior indústria celulósica do estado (que tem 12,5% de participação do Bndes, ou seja, do governo), sob orientação de um grupo da Noruega com ligações na família real daquele país, teria adquirido em 1968 (plena ditadura civil-militar), de forma irregular, 40 mil hectares dos índios da aldeia dos Macacos. Desorientados pela perda da terra, esses indígenas só teriam conseguido se reunir novamente uma década depois..O problema com a monocultura de eucalipto é que, no Brasil, uma árvore está pronta para o abate após cinco ou seis anos. Para que ela entre em equilíbrio hidrológico com o solo (quando passa da fase de crescimento e deixa de sugar milhares de litros d´água) seriam necessários cerca de 40 anos. Se esse movimento de plantio, corte e replantio é feito em larga escala, como se faz no Brasil, chega-se à exaustão dos recursos hídricos nas regiões exploradas. Todas as demais manifestações de vida, que dependem da água, morrem ou são expulsas das regiões onde a monocultura impera. Só ela sobrevive. É o deserto verde que Augusto Ruschi temia.Lula não sabe ou não quer saber disso. Em fevereiro anunciou um Plano Nacional de Florestas (os ambientalistas reclamam que monocultura de pinus e de eucalipto não é floresta) que prevê dobrar em 10 anos a área plantada para produção de celulose, hoje na casa dos cinco milhões de hectares. Perto de 70% dessa nova área (equivalentes a 36 cidades de São Paulo ou a um Estado da Paraíba) serão de plantações, o que indica que a monocultura será uma iniciativa de governo. O presidente envolveu nisso os Ministros da Agricultura, da Indústria e do Desenvolvimento e do Meio Ambiente, pelo que Marina Silva (Ambiente), antes heroína do movimento ecologista, agora é acusada de ter cedido a pressões de Roberto Rodrigues (Agricultura), que orienta a cabeça de Lula em questões de agribusiness. O titular da Agricultura, por sinal, também chefia o lobby pró-transgênicos na Esplanada dos Ministérios. Mas, se não sabe ou se não que saber, Lula precisa se informar o que significa o estímulo à exportação de celulose com baixo valor agregado, após ter importado e pago caro por ba parte dos insumos dessa indústria. Enquanto privilegia a superexploração da agricultura como fonte geradora de dólares para alimentar o FMI, o ex-operário deixar de priorizar quem pede terra para plantar. E se esquece, como observou a matéria d´O Globo sobre a ocupação em Porto Seguro, de que ninguém come eucalipto.

desmatamento da amazônia (2116) emissões de gases-estufa (1872) emissões de co2 (1815) impactos mudança climática (1528) chuvas e inundações (1498) biocombustíveis (1416) direitos indígenas (1373) amazônia (1365) terras indígenas (1245) código florestal (1033) transgênicos (911) petrobras (908) desmatamento (906) cop/unfccc (891) etanol (891) hidrelétrica de belo monte (884) sustentabilidade (863) plano climático (836) mst (801) indústria do cigarro (752) extinção de espécies (740) hidrelétricas do rio madeira (727) celulose e papel (725) seca e estiagem (724) vazamento de petróleo (684) raposa serra do sol (683) gestão dos recursos hídricos (678) aracruz/vcp/fibria (678) silvicultura (675) impactos de hidrelétricas (673) gestão de resíduos (673) contaminação com agrotóxicos (627) educação e sustentabilidade (594) abastecimento de água (593) geração de energia (567) cvrd (563) tratamento de esgoto (561) passivos da mineração (555) política ambiental brasil (552) assentamentos reforma agrária (552) trabalho escravo (549) mata atlântica (537) biodiesel (527) conservação da biodiversidade (525) dengue (513) reservas brasileiras de petróleo (512) regularização fundiária (511) rio dos sinos (487) PAC (487) política ambiental dos eua (475) influenza gripe (472) incêndios florestais (471) plano diretor de porto alegre (466) conflito fundiário (452) cana-de-açúcar (451) agricultura familiar (447) transposição do são francisco (445) mercado de carbono (441) amianto (440) projeto orla do guaíba (436) sustentabilidade e capitalismo (429) eucalipto no pampa (427) emissões veiculares (422) zoneamento silvicultura (419) crueldade com animais (415) protocolo de kyoto (412) saúde pública (410) fontes alternativas (406) terremotos (406) agrotóxicos (398) demarcação de terras (394) segurança alimentar (388) exploração de petróleo (388) pesca industrial (388) danos ambientais (381) adaptação à mudança climática (379) passivos dos biocombustíveis (378) sacolas e embalagens plásticas (368) passivos de hidrelétricas (359) eucalipto (359)
- AmbienteJá desde 2001 -