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2004-04-14
Seja por motivos econômicos, estratégicos, ambientais ou de disponibilidade natural nas entranhas do planeta, uma coisa é certa: a migração do uso de combustíveis fósseis (petróleo, gás natural, hulha e carvão mineral) para os renováveis (do álcool à célula de hidrogênio) é inevitável e inexorável. Mas nada é pra ontem. Visto os necessários investimentos em novas tecnologias para se produzir automóveis melhores, mais econômicos e mais limpos; visto a grande diversidade de produtos renováveis, do álcool aos óleos vegetais, cada qual com suas peculiaridades e origens; e visto que as tecnologias dos automóveis convencionais são difundidas e já amortizadas – uma outra coisa é certa: a passagem da utilização de combustíveis fósseis, ainda disponíveis e preferidos pela humanidade, para os ecologicamente renováveis não será de uma hora para outra. Como a natureza não dá saltos, a mudança acontecerá de forma paulatina, privilegiando nem um tipo de combustível nem outro. Mas o uso dos dois. A única dúvida, diante do efeito estufa que não pára de crescer, dada a resistência de países poluidores como os EUA em não assinar o Protocolo de Kyoto, é se a vida ameaçada do planeta pode esperar pela mudança dessas nossas matrizes energéticas. O tal ponto de mutação previsto por Fritjof Capra, no qual a humanidade, tal como o planeta em desequilíbrio, se decidiria pelo seu suicídio ecológico ou não. Já passou do ponto?
Estas foram algumas das principais discussões levantadas durante o “Fórum Internacional sobre Petróleo, Meio Ambiente & Imprensa”, promovido pela Revista Imprensa, com apoio da Federação das Indústrias do Estado da Bahia (Fieba) e patrocinado pela Petrobrás, mês passado, em Salvador, com a presença dos editores dos principais veículos especializados em Meio Ambiente do Brasil e do exterior.
Nessa discussão, o petróleo ainda reina soberano como o combustível de mais alto conteúdo energético e de mais fácil processamento sobre e sob a face da Terra. Ele também continua abundante na pródiga natureza do nosso planeta. Na menor previsão, ainda vamos conviver com ele, com suas vantagens e desvantagens, pelo menos mais 50 anos. Mesmo que o atual consumo mundial exija a produção de 32 milhões de barris/dia para fazer moverem perto de 800 milhões de veículos automotores sobre a crosta terrestre. As reservas atuais são estimadas em 780 bilhões de barris.
O processamento industrial do petróleo também ainda não achou concorrente na história da humanidade. Uma refinaria média processa cerca de 150 mil barris/dia. Sem falar na sua versatibilidade, tanto na quantidade de outros produtos derivados, como na sua grande aplicabilidade. E seu relativo baixo custo para o consumidor final.
VANTAGENS E DESVANTAGENS - quem ressaltou essas vantagens dos combustíveis advindos do petróleo foi Henry Joseph Júnior, da comissão de Energia e Meio Ambiente da ANFAVEA – Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores: “Nós não gostamos de ser apontados como os vilões do meio ambiente. A verdade é que, por isso, é muito difícil trocar a matriz energética do petróleo”, disse ele. Ao lado das ainda inegáveis mil e uma utilidades do petróleo, Joseph também mostrou – e como! – as suas desvantagens como combustível fóssil. A começar que, como combustível fóssil, ele não é eterno. O fim do petróleo, se não ocorrer a descoberta de novas e expressivas reservas, acontecerá por volta do ano 2.054.
O grande capeta é o conhecido impacto que a sua utilização causa no meio ambiente e nas pessoas (vide quadro ao lado). Uma série de poluentes que nos mata lentamente e de três formas diferentes. Como poluentes primários, na forma de monóxido de carbono, material particulado, aldeídos e hidrocarbonetos aromáticos, que saem tanto das chaminés das nossas industriais como dos canos de descarga dos nossos automóveis. Como poluentes secundários, esses seus venenos são chamados de ozona e nitrato peroxiacetílico. E como poluente terciário, o dióxido de carbono, principal responsável pelo efeito estufa que continua aquecendo e secando a olhos vistos o planeta em que vivemos. E põe gravidade nisso.
Segundo outro palestrante, José Domingos Miguez, coordenador-geral de Mudanças Globais do Ministério de Ciência e Tecnologia, se nada for feito para conter a liberação de dióxido de carbono na natureza, cuja quantidade poderá dobrar até 2.300, “estaremos caminhando rumo à atmosfera de Vênus”. Neste cenário, explicou o especialista, quando estimados sete bilhões de toneladas de carbono estiverem fazendo um escudo nada ecológico na antiga proteção natural do nosso céu, a temperatura da Terra terá aumentado 5,8 graus. Aí, presidentes ligados à indústria do petróleo e renitentes como George W. Bush, que ainda relutam em assinar o Protoloco de Kyoto, cooperando assim com a redução de emissão de gases que provocam o efeito estufa, “entenderão o que é governar pensando em apenas quatro anos e não, de maneira ecologicamente responsável, em 50 gerações pela frente”, concluiu Miguez.
IGUAL PEDRA - Do diretor-financeiro e de relações com investidores da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, ao seu gerente de avaliação e monitoramento ambiental do Centro de Pesquisas e Desenvolvimento (Cenpes), Pedro Penino, todos os representantes da estatal brasileira que participaram do fórum lembraram do físico e escritor Fritjof Capra: ele comparou a nossa dependência atual e o futuro da humanidade, um dia sem petróleo, ao que aconteceu com a Idade da Pedra. A humanidade não esperou que acabassem todas as pedras para evoluir.
Isso significa que a Petrobras não vai esperar pelo fim das reservas deste combustível fóssil para, só então, investir em outras fontes de energia. A nova Petrobras, como uma empresa de energia e não apenas de petróleo, já existe, se “descarboniza” a passos largos e não quer ser surpreendida pela concorrência. Ela investe em vários tipos de energia, desde a energia eólica (aproveitamento dos ventos), passando pela energia solar, e já sonha com a revolução tecnológica em curso que será o aproveitamento comercial da célula de hidrogênio, já chamada de a energia do futuro.
A empresa, que diz “se repensar diariamente”, já tem mais de 1.500 pesquisadores, entre funcionários e consultores externos, trabalhando neste sentido. Até este novo e mais limpo dia energético chegar, um passo imprescindível e de honra já foi dado, destacou Gabrielli, ao lembrar que o último acidente com derramamento de óleo, em 2000, na Baía da Guanabara, foi um divisor de águas na história da empresa: — Felizmente, a questão ambiental acha-se internalizada hoje em todas as nossas 11 refinarias no país. Todas essas unidades, garantiu, estão certificadas com a ISO 14.001 e BS-8800 ou OHSAS-18001, graças a um investimento de mais de R$ 5 bilhões, em apenas quatro anos, e R$ 2,33 bilhões em 2003, no Pégaso - Programa de Excelência em Gestão Ambiental e Segurança Operacional. Isso inclui a conscientização e treinamento permanente de mais de 10 mil funcionários nos últimos 10 anos. Implementação de nove centros de defesa ambiental. 100% dos planos de contingência revisados. Sete mil km de dutos com supervisão e controle automatizados. 100% de redução de resíduos. Mais tratamento permanente de efluentes e controle de emissões.
Quanto à possibilidade de novos acidentes, Gabrielli disse que a ordem geral também já internalizada nos procedimentos operacionais da empresa é : Na dúvida, páre o que estiver fazendo!”. Conforme completou Penido: “A sociedade e o planeta não estão permitindo mais que poluamos o meio ambiente. A Petrobras sabe e valoriza isso – frisou o representante do Cenpes. Há 20 anos trabalhando na empresa, o atual gerente de Meio Ambiente, Luiz Antônio Arroio, se disse testemunha da mudança: — Acidente é como uma parada cardíaca. O paciente só tem cinco minutos de vida para ser socorrido. Antes dos nove vazamentos que tivemos em 2000, incluindo o que aconteceu na Baía da Guanabara, cuja resposta conseguimos dar em 48 horas, a Petrobras não estava preparada para lidar com grandes acidentes.
Hoje, graças a um plano nacional de prontidão de contingência, que inclui nove centros ambientais, seis bases avançadas de socorro e US$ 30 milhões em equipamentos, a nossa resposta é imediata”.Quanto ao relacionamento com a mídia, Arroio foi enfático: “É muito simples. Dizermos sempre a verdade, como premissa fundamental. E fornecermos todas as informações necessárias, de forma clara e transparente”. (JB Ecológico)

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