CULTURA DA ABUNDÂNCIA SE SOBREPÕE À DA ECONOMIA DE ÀGUA
2004-03-22
A Sabesp tem capacidade de produzir 68 metros cúbicos por segundo para a região metropolitana, mas limitou o fornecimento a 61 metros cúbicos ou 62 metros cúbicos por segundo nos últimos meses, informou Francisco José Paracampos, superintendente de Planejamento e Apoio de Distribuição. Devido à escassa margem, vulnerável a qualquer seca, a empresa, que monopoliza o fornecimento na região, está elaborando planos para incrementar sua capacidade de produção em 13 metros cúbicos por segundo nos próximos 15 anos, disse Paracampos. — Esta opção mantém a cultura da abundância, que prefere aumentar a oferta em vez de promover a economia e o uso mais eficiente dos recursos hídricos, diz Aldo Rebouças, engenheiro hidráulico da Universidade de São Paulo. — Cada habitante da Grande São Paulo consome hoje 180 litros de água, quando cem litros seriam suficientes, afirma ele. Os novos projetos são muito caros, porque dependem de mananciais mais distantes, com gastos adicionais de energia para elevar a água à altitude de São Paulo, cerca de 800 metros, destacou o especialista. No entanto, Paracampos discorda: considera que os planos da Sabesp combinam aumento de oferta e controle de demanda. — O consumo na Grande São Paulo diminuiu 20% nos últimos seis anos, assegura o superintendente. Para Rebouças as crises se repetem sem uma mudança efetiva de estratégia. — Os novos projetos compreendem tubulações para fornecer 250 litros diários por pessoa, um volume que levará ao esgotamento, criticou o engenheiro da USP. Aumentar a oferta também implica gastos adicionais no deságüe, já que 80% da água potável se converte em esgoto, observou Ivanildo Hespanhol, especialista em reuso hídrico da Universidade de São Paulo. Além de educar a população, é necessário substituir equipamentos. — Nos sanitários, que representam 26% do consumo residencial, a descarga pode despejar seis litros de água, um terço do gasto atual, sem perder eficiência, disse. O reuso pode adiar a necessidade de novos mananciais distantes, acrescentou Hespanhol. É vantajoso na agricultura, porque contém material orgânico fertilizante; em indústrias que consomem muita água; na lavagem de ruas e irrigação de jardins públicos. Dezenas de indústrias já a empregam na Grande São Paulo. Mas é uma alternativa incipiente que deve ser imposta por decisão política, já que não interessa às empresas de saneamento devido ao preço mais baixo da água reutilizável, afirmou o especialista. (Terramérica)