OGMs: PROPOSTA SURREALISTA
2004-03-09
Por LUIZ ALBERTO SILVEIRA MAIRESSE/ Engenheiro agrônomo, pesquisador agrícola
Nos moldes dos tribunais nazistas, onde já se conhecia antecipadamente o
resultado dos pseudojulgamentos, superando-os em surrealismo, foi lançado no
dia 18 de dezembro de 2003, em Porto Alegre, em festiva cerimônia, o
Tribunal Internacional Popular sobre os Transgênicos. No próprio site da
EcoAgência de Notícias, que faz publicidade do evento, é dito com entusiasmo
o que a fé cega não consegue esconder: O canto entusiasmado dos militantes
que lotaram a sala Sarmento Leite, no terceiro andar da Assembléia
Legislativa, já antecipou qual será o veredicto dos julgamentos programados
para o dia 11 de março de 2004 em Porto Alegre: Queremos plantar sem matar,
e comer sem morrer. Transgênico é veneno, transgênico é veneno!!! Qual o maior absurdo: o de o réu se constituir numa ferramenta ou de o julgamento
ter seu veredicto antecipadamente definido?
Mais do que julgar um instrumento ou ferramenta de trabalho, que é a
engenharia genética ou os transgênicos, o que está em julgamento é a
inteligência dos brasileiros. Se tais doutos são capazes de julgar
instrumentos, inclusive sem conhecê-los, certamente poderiam julgar para
condenar os aparelhos para cirurgias a laser, os de tomografia, os
microscópios e outros totalmente controlados por grandes grupos
internacionais, em condições bem menos favoráveis do que no caso dos
transgênicos, em que a pesquisa nacional é perfeitamente viável. Não é por
acaso que a campanha antitecnologia envolve somente a área de agricultura.
Os brasileiros serão suficientemente conscientes para verem nesse
pseudotribunal uma peça teatral de péssima categoria, interpretada por amadores. Se uma proposta surrealista como essa pudesse ser posta em prática, os tribunais não julgariam mais homens, mas as armas, já que pela
concepção aberrante, as últimas é que seriam condenadas. Poder-se-ia
esvaziar as cadeias, trocando por um pequeno espaço para trancafiar
revólveres e similares. Como subproduto da brilhante idéia, o governo
federal poderia destinar ao Fome Zero os recursos que não precisariam mais
ser gastos com a população carcerária.
Entretanto, os brasileiros têm que ser também suficientemente sábios para
tomarem decisões que não percam de vista que a diferença entre países ricos
e países pobres reside numa só coisa: ambos usam tecnologias avançadas, mas
são os primeiros que as desenvolvem, obrigando os países subdesenvolvidos a
pagarem pesadas taxas de direitos de propriedade. Não há outra saída que não
seja investir em pesquisa científica, cuja principal necessidade básica,
segundo a própria FAO, é a existência de cérebros. Ou nós não temos
cérebros, como pretende demonstrar o Tribunal Internacional Popular dos
Transgênicos? (ZH/Opinião, 09/03)