CONFERÊNCIA DA MALÁSIA MARCADA PELA GUERRA ENTRE USA E ONGs
2004-02-23
A conferência internacional dedicada aos organismos geneticamente modificados (OGM) começou segunda-feira (23) em Kuala Lumpur com um questionamento taxativo dessa tecnologia, apresentada por seus detratores como uma monstruosidade e por seus defensores como uma arma de luta contra a fome no mundo. A organização ecológica Amigos da Terra abriu o debate com um informe no qual afirma que apesar de dez anos de esforços, Monsanto e as outras empresas de biotecnologia só conseguiram impor as sementes e os produtos alimentícios transgênicos nos Estados Unidos. Intitulado cultivos geneticamente modificados, uma década de fracassos, o informe foi apresentado em Kuala Lumpur, onde altos funcionários debatem a aplicação do Protocolo de Cartagena sobre a biossegurança, prolongando a conferência da ONU sobre a biodiversidade, que terminou na sexta-feira passada. O Protocolo de Cartagena, aprovado em janeiro de 2000 em Montreal, regulamenta os intercâmbios de organismos geneticamente modificados e entrou em vigor em setembro de 2003. Este acordo, que é o instrumento vinculante da Convenção sobre a Biodiversidade de 1992, autoriza os países a proibir a importação de OGM em virtude do princípio de precaução. Os Estados Unidos não aprovaram o acordo, ratificado por 86 países e pela União Européia, e fazem campanha em favor da aceitação dos OGM em todo o mundo. A conferência de Kuala Lumpur vai debater durante cinco dias os riscos potenciais dos OGM e sua regulamentação comercial. Espera-se que este tema seja objeto de controvérsia entre a UE e os Estados Unidos em relação às normas das etiquetas dos produtos que contenham OGM. Na capital malaia, no momento em que manifestantes ecológicos inflavam um balão de seis metros de altura em forma de espiga de milho, símbolo da Frankenfood (a comida Frankenstein, em alusão ao famoso monstro), o porta-voz de Amigos da Terra, Juan López, pedia aos participantes na conferência que não se deixassem manejar pelos Estados UNidos. Os Estados UNidos responderam afirmando que não existe nenhuma prova científica que demonstre a existência de problemas de saúde devidos ao consumo de produtos geneticamente modificados. O representante americano, Richard White, confirmou que seu país não pretende ratificar o protocolo. A UE aplica um embargo de fato ao cultivo e à importação de OGM, dos quais os Estados Unidos são o principal produtor. Esta medida é questionada pelo Governo americano ante a Organização Mundial do Comércio (OMC). Antecipando o que serão os debates, o ministro britânico do Meio Ambiente, Elliot Morley, declarou antes da conferência que os Estados Unidos devem compreender que há uma enorme sensibilidade sobre a questão dos alimentos geneticamente modificados na Europa. - O fundo do problema é que os consumidores têm direito a escolher, disse, defendendo a política de etiquetas com indicações estritas na perspectiva de uma flexibilização das restrições européias. Em seu informe, Amigos da Terra assinala que nenhum dos grandes países produtores de OGM está em condições de garantir a segurança dos cultivos e que os acidentes ocorridos (milho Starlink, plantas biofarmacêuticas) demonstram os riscos de introdução na cadeia alimentar de produtos proibidos para o consumo humano. - Não há um só alimento OGM comercializado que seja menos caro nem melhor do que seu correspondente natural e os cultivos OGM existentes necesitam em sua maioria de mais pesticidas do que as variedades convencionais, destaca o documento.(AFP)