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2004-02-23
Uma centena de pesquisadores e técnicos argentinos trabalhará nos próximos dois anos em um programa que permitirá medir as emissões causadas pelo efeito estufa e estabelecer vulnerabilidades próprias do país diante do aumento da temperatura do planeta. O projeto será financiado pelo Fundo Mundial para o Meio Ambiente (GEF, em inglês), que dará ao governo US$ 1,14 bilhões, e a coordenação e administração ficará a cargo da Fundação Bariloche. O presidente da Fundação, o economista Daniel Bouille, explicou que as áreas em que se trabalhará são prioritárias por sua importância do ponto de vista econômico e social. O programa tem quatro objetivos. Primeiro, será feito um inventário local de gases que causam o efeito estufa, para apresentar um relatório à Conferência das Partes da Convenção Marco das Nações Unidas sobre Mudança Climática. O primeiro relatório foi feito em 1990, e seus dados estão atualizados até 1999. O estudo, agora, tomará estatísticas de 2000 para fazer uma nova medição, que ficará por conta de dez especialistas da Fundação Bariloche que já participaram da elaboração do primeiro inventário. As emissões originadas pelo uso de combustíveis fósseis na Argentina representam 0,5% do volume global. O país ratificou, em 2001, o Protocolo de Kyoto para controlar os gases causadores do efeito estufa. O segundo objetivo do projeto é o da vulnerabilidade própria do país diante da variabilidade do clima e do aumento da temperatura a longo prazo. Para isso trabalharão outros 90 cientistas e técnicos de instituições de todo o país, e esse trabalho receberá a maior parte dos fundos, destacou Bouille. - Nessa matéria há uma gama de problemas que ocorrem em zonas importantes do ponto de vista econômico e social e nas quais os especialistas concentrarão sua atenção, informou o diretor do escritório de Assunto Ambientais da chancelaria argentina, Raúl Estrada Oyuela. Estrada adiantou que será analisado, por exemplo, o impacto da mudança climática na produção agrícola do Pampa Úmido, no centro do país. Nessa região fértil, responsável pela maioria das exportações agropecuárias do país, fortes chuvas provocam inundações devido ao escasso declive da planície. Há pouco mais de um ano, quase 20% da área semeada estava debaixo da água. Na planície, a água pode filtrar-se para outras camadas ou evaporar, mas depois de fortes chuvas a capacidade de absorção se esgota. O problema se agrava se o tipo de cultivo não ajuda na evaporação de águas, como ocorre com a soja, principal produto de exportação argentino, que ocupa mais da metade da superfície semeada do país. Há regiões do nordeste em que uma seca prolongada afeta o funcionamento de represas hidrelétricas. Em outras, as chuvas intensas causam inundações graves, como ocorreu em 2003 na província de Santa Fé, com a cheia do Rio Salado. Essa cheia, que ocorreu em questão de horas, alagou quase metade da capital da província e matou 23 pessoas, além de deixar milhares de famílias sem casa. Também serão analisados os efeitos do aumento da temperatura na elevação do nível do mar na província de Buenos Aires, onde periodicamente há tempestades de ventos do sul, que provocam a cheia do Rio da Prata, com inundação de suas margens. Além disso, será estudada a deterioração do solo da região patagônica, ao sul do país. Essa área, afetada pela desertificação, poderia ser açoitada por chuvas cada vez mais fortes por causa da mudança climática, fenômeno que agravaria o atual problema de erosão do solo. Outra meta é formular um Programa Nacional de Mitigação, que inclua a redução das emissões de gases causadores do efeito estufa, que retém o calor na atmosfera. Os especialistas deveriam apresentar ações políticas para neutralizar os danos causados na atmosfera pelo dióxido de carbono e pelo metano. Como exemplo, Estrada se referiu a um estudo feito por especialistas argentinos para reduzir as emissões de metano provenientes da fermentação entérica do gado, através de mudanças em sua dieta que gerariam um benefício adicional, ao melhorar a produção de carne e leite. Por fim, o projeto compromete os envolvidos a levarem adiante uma série de atividades para criar capacidade no país, e, sobretudo, consciência entre a opinião pública a respeito da relação entre as emissões, o aumento da temperatura e o impacto das mudanças do clima na população.(Terramérica/IPS)

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