TRAGÉDIA DE BHOPAL COMPLETARÁ 20 ANOS COMO SÍMBOLO DE IRRESPONSABILIDADE
2004-02-05
Por Mariano Senna da Costa, de Berlim
Dia 03 de dezembro de 2004 o maior acidente ecológico-industrial da história completará 20 anos. E o que o methil-isocianeto, um dos gases que vazaram da fábrica de pesticidas da Union Carbide em Bhopal na região central da Índia, representou, o tempo se encarregou de confirmar. O descaso e a irresponsabilidade dos agentes envolvidos na tragédia, conhecida pelas mais de 500 mil pessoas afetadas como o verdadeiro terror.
Nem mesmo o Fórum Social Mundial que este ano aconteceu em Mumbai, escapou à indiferença com que o problema é tratado. Nenhuma das oficinas, encontros e debates ocorridos no evento se dedicou especificamente a propor uma solução para o caso.
— Nós vemos a situação resolvida, declara a diretoria da Dow Chemical, que em 2001 comprou a Union Carbide. A empresa se nega a pagar a indenização estipulada pelas justiça indiana entre US$ 300 e US$ 500 a cada um dos sobreviventes e nem cogita a hipótese de promover a descontaminação de toda a área afetada, assim como das fontes de água usadas pela populacao e até hoje altamente contaminadas.
Após o acidente a Union Carbide fechou a fábrica de Bhopal e abandonou a área sem nenhum trabalho de limpeza. O Greenpeace tem feito ações a cada ano em várias partes do mundo para pressionar a Dow a assumir o passivo de Bhopal. No último aniversário do acidente, ativistas da ONG levaram tonéis de água e terra contaminadas até a frente da sede da Dow Chemical, em Horgen na Suíça. Segundo dados de ONGs indianas mais de 100 tonéis de produtos altamente tóxicos ainda continuam abandonados no lugar do acidente. Fora a contaminação de toda a área em volta da antiga fábrica de pesticidas. — Não há placas, portões, ou qualquer aviso sobre o perigo, tanto que até crianças ainda brincam nas instalações da antiga fábrica, atesta Satinath Sarangi, membro da ONG Bhopal para Informação e Ação. Ele conta que mais de 500 famílias vivem atualmente na área ao redor da fábrica. Ninguém foi responsabilizado pelo que ocorreu 20 anos atrás. Em 2002 a justiça indiana confirmou a condenação por negligência do diretor da Union Carbide na época da catástrofe, Warren Anderson. Ele foi encontrado num centro de veraneio nas imediações de Nova York e não quis comentar a sentença. ONGs internacionais acusam o governo indiano de também ser negligente por não exigir uma punição para os envolvidos diretamente no caso. — O governo indiano tem medo de ofender o governo dos Estados Unidos com essa demanda, quando o correto seria exigir que o caso fosse tratado como um homicídio em massa, não como uma questão de negligência, declara um dos membros da Sambhavna Trust Clinic, que atende a população atingida pelos gases venenosos.