RIOS NA AMÉRICA CENTRAL TÊM PLANO BINACIONAL DE RECUPERACAO
2004-02-03
O vulcão Tacaná, na fronteira do México com a Guatemala, é o coração de uma milenar bacia hídrica vítima do desmatamento, da erosão e da pobreza, males que podem ser revertidos com um novo projeto que incluirá os 700 mil habitantes da regiao. O plano, em andamento desde o final de 2003, pela iniciativa da União Mundial para a Natureza (UICN), visa a resgatar de maneira conjunta as bacias dos rios Suchiate, Coatán, Cahocán e Cosalpa, associadas ao Tacaná. Na área de 1,36 mil quilômetros quadrados, populações marginalizadas convivem com a superexploração de recursos, intenso desmatamento e com a erosão.
O Tacaná, com mais de quatro mil metros de altura e quase um milhão de anos, foi um dos montes mais venerados pelas antigas culturas maias. Com a passagem dos séculos, tornou-se evidente uma deterioração que hoje obriga a uma modificação em seu manejo para garantir um futuro adequado. Perseguidas pela pobreza, as comunidades da bacia, em parte descendentes dos maias, praticam um uso intenso e desordenado dos recursos. O mesmo fazem algumas indústrias, como as açucareiras e de óleo, que investiram grandes capitais no local. - O manejo integral das bacias é fundamental pela água, mas isso não acontece na América Latina, por isso este projeto é um exemplo que pode marcar novos rumos na região, disse o diretor da UICN para a Mesoamérica, Enrique Lahmann.
O projeto Manejo Integrado das Bacias Associadas ao Vulcão Tacaná objetiva a criação de sinergias entre os governos do México e da Guatemala, as comunidades e os municípios fronteiriços e várias organizações não-governamentais para promover uma direção única para o uso da bacia, explicou Lahmann. A idéia é melhorar a qualidade de vida das comunidades. Apenas na América Central, com 36 milhões de habitantes, 58% da população rural não tem acesso a água potável, segundo estudos do Centro da Água do Trópico Úmido para a América Latina e o Caribe.
Liliana Toledo, coordenadora de Cooperação Internacional do Ministério do Meio Ambiente e Recursos Naturais da Guatemala, qualifica o projeto como uma iniciativa que pretende definir o novo rumo a ser tomado pela humanidade a fim de garantir o desenvolvimento sustentável. Segundo ela, o programa pretende demonstrar o manejo de ecossistemas em bacias hidrográficas e dotar de poder as pessoas para que estabeleçam um uso participativo, eqüitativo e responsável da água e dos recursos naturais. As ações incluirão todo o caudal dos rios até sua desembocadura no mar, e todos os que estejam vinculados com seu ecossistema.
- É um plano ambicioso que apenas começa e, embora não pretendamos mudar na totalidade a qualidade de vida da região, buscamos mobilizar todos os interessados e torná-los partícipes dos mesmos objetivos e metas, explicou Rocio Córdoba, coordenadora da área de Mangues, Água e Zonas Costeiras da UICN na Mesoamérica. Embora o plano, de pouco mais de US$ 18 milhões, envolva México e Guatemala, não é considerado um projeto binacional. Enquanto isso, a UICN conseguiu que a maioria dos municípios, grupos sociais e organismos de governo aceitassem caminhar juntos em ações de recuperação. Em 2005, terão início iniciativas concretas para beneficiar as comunidades pobres, e no terceiro e quarto anos do projeto serão desenvolvidas todas as ações e se buscará que os governos o adotem formalmente como plano binacional. A UICN promove uma campanha mundial destinada a demonstrar a conveniência do desenvolvimento integral das bacias hídricas, que consta de seis projetos, incluindo o do Tacaná. Os demais são realizados no El Salvador, na África austral, no Sudeste da Ásia e na área do Mar Mediterrâneo. (IPS)