PAI DA BOMBA ATÔMICA DO PAQUISTAO ADMITE VENDA DE SEGREDOS NUCLEARES
2004-02-03
O cientista paquistanês, Abdul Qadeer Khan, conhecido como o pai da bomba atômica do país, admitiu ter vendido segredos nucleares para o Irã e a Líbia, mas autoridades ainda não decidiram se o cientista, considerado um herói nacional, será julgado. Khan foi demitido do cargo de assessor do primeiro-ministro no sábado (30) e continua sendo o principal suspeito em uma investigação, que já dura dois meses, sobre as alegações de que segredos sobre armas nucleares do Paquistão foram compartilhados por alguns indivíduos com outros países, incluindo Líbia, Irã e Coréia do Norte. Sete suspeitos ainda estão sendo investigados, ao contrário de ex-autoridades militares e de inteligência de alto escalão que, segundo especialistas, sabem bastante sobre as atividades de Khan. Levar Khan a julgamento é um assunto delicado no Paquistão, onde ele é reverenciado como herói nacional e pai da bomba atômica não só do país, mas também de todo o mundo islâmico. Fontes de inteligência disseram que as evidências contra Khan são fortes o suficiente para acusá-lo formalmente, e incluem uma declaração de um importante mediador em Dubai que pode condená-lo. No entanto, diplomatas ocidentais e analistas dizem que um julgamento poderia trazer muitas surpresas no Paquistão e, em particular, para seus poderosos militares, que poderiam estar implicados no caso. Os serviços de inteligência acreditam que a filha de Khan pode ter ido para o exterior com material que poderia comprometer os militares do país. Os jornais paquistaneses escritos em inglês reagiram com indiferença à demissão de Khan, mas pediram um julgamento aberto. - Há uma forte suspeita de que o doutor Khan não pode ter feito nada de errado ou mesmo inapropriado sem a conivência ou negligência dos que controlavam o programa nacional naquele momento, disse o editorial do The Nation. Outros jornais mais lidos, em idioma Urdu, foram mais críticos, refletindo os sentimentos de muitos paquistaneses comuns. - Seja qual for a razão que o governo dará para justificar suas ações, o país vai considerar um passo em direção ao cumprimento da agenda americana nesta região, disse o jornal Nawa-i-Waqt. Khan foi um dos principais arquitetos do programa atômico do Paquistão, desde 1970 até os primeiros testes, em 1998. O programa foi desenvolvido em resposta ao programa nuclear da Índia. (Reuters)