AS ARMAS QUÍMICAS DE HITLER VOLTAM A AMEACAR A EUROPA
2004-01-30
As armas químicas de Adolf Hitler voltam a ameaçar a Europa, seis décadas depois da derrota da Alemanha na Segunda Guerra Mundial. Os depósitos de munição nazista, espalhados pelo fundo do mar, no Báltico e no Atlântico, estão sob risco de sofrer vazamentos. A corrosão, a pesca a grandes profundidades, realizada com redes de arrasto, e os cabos e oleodutos colocados no fundo do mar agitam estes armazéns, que eram aparentemente inacessíveis. Em alguns pontos da Europa, são desconhecidos os locais onde estão as dezenas de milhares de toneladas de munições despejadas pelos nazistas no fundo do mar. A Noruega, por exemplo, só conhece a localização exata de 15 dos prováveis 36 navios que estão a 600 metros de profundidade nas águas próximas à cidade de Arendal, no sul do país. O local é um dos maiores depósitos de armamentos nazista, onde estão 168 mil toneladas de munição. Ole-Kristian Bjerkemo, membro da guarda costeira da Noruega, disse ter esperanças de que uma nova investigação seja realizada este ano para localizar os navios carregados com os estoques nazistas de gás mostarda e de tabun, uma substância venenosa. - Queremos saber onde eles estão, afirmou Bjerkemo. Uma câmera-robô enviada ao fundo do mar em 2002 encontrou uma rede de pesca presa em um dos navios afundados. Mostarda sulfurosa e traços de compostos de arsênico foram achados no fundo do mar, mas nenhum produto químico apareceu na água. Os governos da Europa acreditam que os estoques de armas estão mais seguros no fundo do mar, onde deixam vazar lentamente as substâncias venenosas que se diluem no contato com a água ao longo de décadas. O grupo ambientalista Greenpeace defende a recuperação desses carregamentos.
Em 1969, o pescador dinamarquês Walther Holm Thorsen, então com 15 anos, encontrou um recipiente cinza, rachado, preso em sua rede de pesca. Ele o jogou de volta ao mar, mas já tinha se transformado na primeira vítima dos nazistas no pós-guerra. - Foi aterrador. A dor era insuportável e minhas mãos incharam por completo, lembra Thorsen. O pescador contou que começou a sentir dor no meio da noite, horas depois que ele e outro membro da tripulação tiraram uma substância oleosa dos peixes. Eles não tinham idéia de que se tratava de gás mostarda. Thorsen ficou três meses em um hospital e as mãos dele nunca se recuperaram totalmente, apesar do transplante de pele. - Trabalhar como pescador agora é difícil. Frequentemente, minhas mãos parecem que estão congelando, conta. A tripulação de seu barco, segundo ele, está mais consciente sobre os perigos das armas químicas e possui agora instrumentos de descontaminação a bordo. - Mas o crescente enferrujamento será um problema no futuro, acredita.
Além do perigo representado para as pessoas que trabalham no mar, um vazamento de grandes proporções poderia matar muitos peixes. Algumas substâncias poderiam inclusive penetrar no fundo do mar e ingressar na cadeia alimentar. - A recuperação da munição descarregada no mar é uma operação cara e de alto risco, que poderia resultar no vazamento de grandes quantidades de produtos tóxicos, afirmou a comissão Ospar, composta por 15 países e responsável por proteger o norte e o leste do Atlântico. - O problema não vai se resolver sozinho, contra-argumenta Paul Johnston, do Greenpeace. - À medida que a corrosão aumentar, aumentará também a probabilidade de haver vazamentos. Liderados pela Irlanda, os governos que fazem parte da Ospar estão trabalhando na elaboração de diretrizes comuns para os pescadores que trabalham na área de risco. O conjunto de normas deve ficar pronto em junho.A chamada Comissão Helsinque, que reúne os países do mar Báltico, já faz esse trabalho de oferecer dicas aos pescadores. Entre elas está cortar as redes se houver suspeita de gás mostarda e não esfregar os olhos se eles arderem porque os dedos podem estar sujos. O ideal é lavá-los em água corrente por 15 minutos. A comissão recomenda ainda que, para cada três tripulantes, os barcos levem uma caixa que inclua líquidos para descontaminação, sprays e seringas com injeções para conter os agentes venenosos. (Reuters)