ALEMANHA QUER VENDER FÁBRICA DE PLUTÔNIO PARA A CHINA
2003-12-04
Por Mariano Senna da Costa, de Berlim
Depois de fechar a sua primeira usina atômica em 14 de novembro, a Alemanha voltou a se envolver em outra polêmica ligada ao assunto. Ontem o Chanceler Gerhard Schröder, em visita oficial à China, confirmou não haver nenhuma barreira para um acordo de transferência de tecnologia atômica entre os dois países. O acordo está centrado na venda de uma antiga fábrica para a produção de plutônio enriquecido a ser usado como combustível de reatores atômicos. — Não temos nada contra esse interesse comercial dos chineses, declarou Schröder.
A antiga fábrica pertence à Siemens e faz parte do antigo complexo de Hanauer. Era para ser o maior produtor mundial de combustível nuclear. Custou 720 milhões de Euros, financiados pelo governo federal, e deveria fabricar a partir de óxido de Urânio e Plutônio trabalhados à 1600 graus Célsius as barras usadas para esquentar a água que move as turbinas de usinas atômicas de toda a Europa. O empreendimento sempre enfrentou problemas tanto políticos, quanto financeiros e desde a década de 90 o governo alemão tenta vendê-la. Os primeiros candidatos foram os russos. Agora são os chineses que se dispõe a pagar os 50 milhões de euros pedidos pela Siemens. Mas logo depois do anúncio, ambientalistas alemães, autoridades da União Européia e até políticos do próprio governo de Berlin criticaram a possibilidade do negócio. — A fábrica de enriquecimento de Plutônio é um produto ambíguo, que pode ser usado tanto para fins civis e militares, afirmou um representante do ministério das finanças. — Esse negócio significaria um rompimento ao embargo da venda de armas imposto contra a China pela sua política relativa aos direitos humanos, acusou um representante da Comissão Européia. Para alguns assessores políticos da União Européia, o anúncio da intenção de negociar com a China a fábrica de Plutônio pode ser encarado como um desafio político pelos Estados Unidos e por outros membros das Nações Unidas. O anúncio ocorreu quase que simultaneamente à divulgação por parte do governo de Pequim de uma cartilha — Para uma verdadeira política mundial pela não proliferação de armas de destruição de massa. O chamado Livro Branco, traz severas críticas à política unilateral dos Estados Unidos para impedir que determinados países, como Coréia do Norte e Irã, tenham armas nucleares. No documento os chineses dizem que se a ONU quer impor sanções às armas nucleares, então elas devem ser válidas para todos os países, sem exceções.