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2003-11-26
por Lupércio Barros Lima
Na década de 70 o Brasil acordou para um problema incômodo: o consumo crescente de madeira e, conseqüentemente, a devastação das florestas nativas. O corte desenfreado e inescrupuloso de madeiras nobres começava a deixar sinais, chamando a atenção da população, do governo e, até mesmo, de organismos internacionais. Nos anos que se seguiram, durante as décadas de 70 e 80, através de incentivos fiscais, o governo estimulou a plantação de eucalipto e pinus, espécies de rápido crescimento e excelente aplicação industrial, na tentativa de aplacar a devastação das florestas e criar uma base de produção de madeira, o chamado maciço florestal. A iniciativa deu bons frutos e, atualmente, o Brasil conta com 4,8 milhões de hectares reflorestados com estas espécies, sendo que 25% destas florestas estão desvinculadas das indústrias, dando sustentação ao mercado de madeira roliça em geral. Os estoques somam uma oferta de 852 milhões de m2. Hoje, podemos dizer que o Brasil já colhe o dobro de madeira de reflorestamento do que de floresta nativa.
Embora a questão florestal no Brasil ainda seja abordada parcialmente, ora por setores que utilizam a madeira como principal insumo, ora sob a perspectiva ambiental, esta atividade confirma uma importante dimensão econômica. Além de estar entre os 10 maiores produtores florestais do mundo, contando com 6,4 milhões de hectares, o país desenvolveu tecnologia avançada para a exploração de florestas e para a transformação industrial da madeira, tanto que apresenta o maior rendimento na produção de eucalipto e pinus do mundo, com custo inferior ao de importantes concorrentes, como Nova Zelândia, África do Sul, Chile e Estados Unidos. A previsão de crescimento do setor, nos próximos cinco anos, é de taxas anuais na faixa de 10% a 12%, em função das possibilidades existentes tanto no mercado externo quanto no mercado interno. A demanda por móveis importados pelo consumidor americano, o principal mercado comprador do Brasil, tem crescido por motivos, entre os quais, a preferência por um design mais moderno e, também, a capacidade de fornecedores estrangeiros em oferecer produtos a preços bastante competitivos. Fatores como este desenham a vocação madeireira e exportadora do Brasil.
A indústria brasileira de base florestal - móveis, madeira, papel e celulose - busca no mercado externo oportunidades de crescimento. Segundo dados da Abimovel, em 2001 o volume total exportado pelo Brasil nesta área chegou a US$ 4,2 bilhões, quase 8% de todas as exportações brasileiras. A perspectiva é de atingir US$ 11 bilhões até 2010. No mercado nacional, o setor já movimenta 3,5% do PIB, faturando o equivalente a US$ 21 bilhões anuais. Reunindo cerca de 30 mil empresas, responsáveis por um milhão de empregos diretos e 3,5 milhões indiretos, o setor precisa de novos mercados para manter os índices de contratações e ampliar o faturamento. Por este motivo, são fundamentais as mostras especiais e stands brasileiros em feiras internacionais, organizadas por entidades e associações com foco em exportação. Apesar deste cenário promissor, a indústria madeireira esbarra em um sério entrave, já apontado pelo Ministério do Meio Ambiente: a partir de 2004, parte da indústria brasileira processadora de madeira terá que importar matéria-prima. Isto porque o reflorestamento, fundamental para o crescimento e a competitividade da cadeia madeireira, teve sua expansão limitada pela ausência de financiamentos adequados, principalmente após o fim do Fundo de Incentivo Setorial (FISET), em 1987. Hoje, o BNDES figura como a principal alternativa de financiamento para o plantio de florestas.
Urge, portanto, que sejam formuladas estratégias de fomento de um mercado florestal no Brasil. O Conselho Florestal do Movimento Espírito Santo em Ação foi criado exatamente com este intuito. A observação de experiências de países como Finlândia, Canadá, Estados Unidos e Chile, que têm um setor florestal desenvolvido e consolidado, também pode ajudar nesse processo. Aliás, em diversos países, a atividade madeireira e sua cadeia produtiva são foco de investimentos e transações comerciais de elevado valor. As florestas são, mais do que matéria-prima, um ativo de alta liquidez. Geradora de receitas e importante na pauta de exportações do Brasil, a indústria da madeira é fundamental também para o desenvolvimento regional. Torna-se crucial, portanto, a formulação de estratégias e instrumentos que dêem apoio a esta atividade, principalmente no que se refere ao uso sustentado das florestas tropicais e ao reflorestamento, para a manutenção das vantagens competitivas do Brasil na cadeia produtiva da madeira e na balança de exportações. As sementes deste trabalho foram lançadas. Resta-nos aproveitar esta vocação para a madeira e ampliar os mercados.
Lupércio Barros Lima é presidente da Tora S.A. e membro do Conselho Florestal do Movimento Espírito Santo em Ação. lupercio@tora.ind.br

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