Por Mariano Senna da Costa, de Berlim
A vinda de dois políticos do primeiro escalão do governo da Alemanha ao Brasil esta semana pode ter um significado muito além da diplomacia e dos interesses econômicos. Jürgen Trittin é Ministro do Meio Ambiente e veio ao país para participar da conferencia Latino América e Caribe de Energia Renovável, que ocorre até sexta em Brasília. Já a Ministra da Agricultura da mais importante economia européia, Renata Künast, marcou presença no Encontro Econômico Brasil Alemanha, em Goiânia. Os dois são do partido verde, a ala mais à esquerda do governo de coalizão do chanceler Gerhard Schröder, e chegam justamente num momento em que o governo Lula enfrenta uma crise com a questão dos transgênicos, além de uma forte pressão interna e externa por conta da ALCA. Em Goiânia, Renata Künast disse o que já havia dito no parlamento alemão (Reichstag) em Berlim. — O argumento de que os transgênicos ajudarão a combater a fome no mundo é apenas um pretexto para levar a países como a Alemanha, produtos transgênicos. E o Brasil tem muito a perder com isso. Só em soja, foram 1,7 milhão de toneladas do grão vendidos em 2002 para os alemães. Sem praticamente nenhum acordo significativo no setor, o Brasil é o maior fornecedor do produto naquele mercado. O recado que Frau Künast veio trazer ao Brasil foi direto: se o Brasil plantar transgênicos, certamente perderá mercado na Europa. Se seguir o caminho de proteger consumidores e pequenos produtores, tem muitas chances de ampliar seus negócios com a Europa pela porta da Alemanha. Renata Künast não falou diretamente sobre a ALCA, até porque não tem a ver diretamente com seus interesses. Mas ela sabe, assim como todos os alemães sabem, que seria muito pior negociar seus interesses no exterior com um bloco como a ALCA, do que com o Brasil ou o Mercosul. Só esse fator justifica a presença de um dos políticos mais importantes da Alemanha em um evento que reuniu nao mais que meia dúzia de empresários e personalidades alemãs.