SISTEMAS HÍBRIDOS, ECOLOGIA COM BOM SENSO!
2003-10-28
Por Pierre Paludgnach, de Berlim
Se a Alemanha tem hoje um dos programas de geração de energia renovável mais avançados do mundo, não é por causa das condições climáticas e geográficas do país. As quatro razões principais, que justificam os investimentos do governo de Berlim (anualmente mais de 12 bilhões de Euros) no setor, são: satisfazer a população que quer energia verde, reduzir as emissões de poluentes (protocolo de Kyoto), promover o desenvolvimento de uma indústria renovável e assumir as responsabilidades de país rico (Johannesburg). A estratégia até o momento para atingir esses objetivos tem sido bastante elementar. Diminuir os custos de investimento, aumentando artificialmente a demanda, através de subsídios no preço da energia renovável ao consumidor.
Graças a esses esforços o país hoje responde por 54% da potência instalada em geração eólica na União Européia. Na geração fotovoltaica esse percentual chega a 70%. Devemos considerar que a Alemanha está longe de ser um país com condições climáticas e geográficas ideais para investimentos em tecnologias caras, como a geração fotovoltaica de energia. Nesse sentido o esforço dos alemães é um investimento de longuíssimo prazo. Estimativas oficiais dão conta que as energias renováveis ainda levarão 50 anos, pelo menos, para responderem por 50% da produção de energia (eletricidade e calor) do país.
Uma das barreiras é tecnológica. Para termos uma idéia, apenas entre 5% e 16% da radiação incidente nos módulos solares oferecidos hoje no mercado é convertida em eletricidade. Claro que esse aproveitamento poderia ser melhor. O problema é o custo. Os painéis solares utilizados por satélites, por exemplo, são muito menores, mais leves e eficientes. Mas os painéis solares aqui na terra precisam competir com os custos de produção do petróleo, do metano, do carvão e do urânio. Em média o painel solar custa 4.000 Euros por KWp. Um preço alto para sistemas conectados em rede.
Em algumas situações há vantagens de custo. Para uma localidade ou prédio que demande pouca potencia e que esteja fora do sistema de distribuição interligado, a solução fotovoltaica é extremamente competitiva. Os gastos para a conexão à rede são muito mais altos que alguns painéis solares, que requerem pouca manutenção e trabalham sem combustíveis auxiliares, como gasolina ou óleo.
Na energia eólica a comparação é mais ou menos a mesma. Uma turbina eólica custa menos que 1.000 Euros por kW instalado. Mas turbinas eólicas modernas convertem em eletricidade apenas 25% a 30% da energia produzida pelo movimento das pás de vento. Aqui temos a primeira barreira técnica. Uma turbina mais eficiente precisa ser menor, mas sendo menor precisa de mais vento para gerar energia. O fator crítico no cálculo da potencia eólica não é a eficiência da turbina, mas a velocidade do vento. A potencia eólica é proporcional a velocidade do vento elevado ao cubo. Se a velocidade do vento é de 6 m/s, podemos ter uma potencia com fator 216. Isto quer dizer que uma pequena variação pode fazer muita diferença. Por exemplo, na Dinamarca em 2002, os 4889MW eólicos instalados produziram 5.92TWh, o que equivale a 13% do consumo elétrico do pais.
Geralmente não se fazem parques eólicos em lugares com ventos abaixo dos 6 m/s. Um lugar bom deve ter ventos com a velocidade média anual acima dos 8 m/s, mas existem poucos lugares no mundo com estas condições. O sul da Argentina, é um deles, onde a energia eólica é a mais barata do planeta.
Outra questão é como produzir energia quando não há vento? Por isso, hoje no setor energético, se diz que uma fonte energética pode ser mais barata, mas não é melhor que uma outra. É melhor ter um mix de fontes de energia e por isso se desenvolvem sistemas híbridos.
Este artigo foi escrito pelo engenheiro belga Pierre Paludgnach, ex-colaborador da Fundação Fraunhofer da Alemanha no projeto que até 2006 deve apresentar soluções para o gerenciamento de sistemas híbridos de produção de energia. Paludgnach é mestre pela Agencia Européia de Energias Renováveis (EUREC) e escreveu este artigo especialmente para o correspondente do Ambiente JÁ na Alemanha, Mariano Senna da Costa.