CARVAO AINDA É IMPORTANTE COMBUSTÍVEL EM BERLIM
2003-10-21
Por Mariano Senna da Costa, de Berlim
— Carvão é coisa do passado. Só existe e é usado ainda porque é subsidiado, acredita a bibliotecária berlinense, Agnes Muller. A resposta sobre a utilização do minério na Alemanha não poderia ser mais equivocada, embora mostre uma verdade. Segundo enquete feita pela revista Der Spiegel três meses atrás, cerca de 80% dos alemães consideram o carvão um combustível dispensável. Na realidade o minério ainda é responsável por 35% da geração de eletricidade do país. Se for computada nesse dado a sua utilização doméstica, para aquecimento, por exemplo, esse número sobe para quase 50%. A prefeitura de Berlim não tem dados precisos, mas sabe que em boa parte da cidade, principalmente no antigo lado oriental, a linhita (carvão de baixa qualidade) ainda é o principal combustível do aquecimento. Muitos berlinenses ainda utilizam os fornos de carvão para esse fim. São como grandes fogões de louca instalados no interior das casas e apartamentos. Quando acesos podem aquecer uma área de até 100 metros quadrados, dependendo do tamanho do forno e da circulação de ar da peca. — Precisamos de cerca de duas toneladas de carvão para aquecer a casa durante todo o inverno, calcula Aldo Repetto, artista plástico chileno. Em Berlim há cinco anos, Aldo mora com a mulher em um apartamento de 70 metros quadrados na antiga parte oriental da capital alemã. Ele deve gastar com as duas toneladas de carvão do seu forno cerca de 500 Euros. — É caro, mas indispensável em um inverno de 15 graus negativos. O valor total que a economia do carvão movimenta na cidade de Berlin é difícil de calcular. Falta de mecanismos de controle sobre o consumo do minério é o principal motivo. Dados das empresas que comercializam o carvão em Berlin ajudam a dar uma idéia. A Nord West Brennstoffe é uma das cerca de 30 empresas que operam na capital. Somando os diferentes tipos do produto ofertado (em barra, em bola, em pedaços) usados nos fornos de aquecimento a Nord West vende cerca de 20 toneladas do produto por dia. — Esse movimento se mantém até meados de fevereiro, conta Uwe Tebs, encarregado das encomendas na empresa.
Num cálculo simplista, pode-se estimar que só em Berlin sejam consumidas cerca de 60 mil toneladas de linhita durante o inverno. Quase nada se comparado com as 30 milhões de toneladas de carvão produzidas anualmente pela Deutsche Steinkohle para abastecer as usinas de energia do país.