PARTILHA DE RECURSOS ENTRE DUAS ESPÉCIES DE CANÍDEOS (CERDOCYON THOUS E PSEUDALOPEX GYMNOCERCUS) SIMPÁTRICAS NO SUL DO BRASIL
2003-09-12
RESUMO: Mecanismos que favoreçam a partilha de recursos e reduzam a sobreposição de nicho podem ser importantes para canídeos na América do Sul, onde freqüentemente ocorrem duas ou mais espécies em simpatria. O presente estudo buscou verificar se ocorre partilha de recursos entre Cerdocyon thous e Pseudalopex gymnocercus em uma área no Rio Grande do Sul. Realizei o presente estudo, entre Jun/2000 e Out/2001, nas áreas de maior altitude do Parque Nacional Aparados da Serra (PNAS), onde ocorrem florestas com araucária e campos de altitude. Analisei a dieta das espécies através da análise de fezes, o uso de hábitat através de censos e também pelo local onde as fezes eram encontradas, e o padrão diário de atividade através do registro do horário de avistagem. Encontrei uma alta sobreposição no uso de recursos alimentares, com os itens roedores, poáceas, coleópteros e aves sendo os mais comuns. Esta similaridade se manteve quando foram feitas comparações entre estações. Quanto ao uso de hábitat, houve diferenças significativas entre os canídeos. Cerdocyon thous utilizou com freqüência todos os ambientes (floresta, borda de mata, estrada/caminho e campo) enquanto que P. gymnocercus utilizou apenas áreas abertas (estrada/caminho e campo). Houve também diferenças significativas entre os horários de atividade registrados para cada espécie, com P. gymnocercus sendo mais crepuscular (Média circular dos horários de avistagem = 19:56h, DP = 04:50h) e C. thous, mais noturno (Média = 23:39h , DP = 03:18h). Meus resultados indicaram, portanto, que C. thous e P. gymnocercus, no PNAS, apresentam alta sobreposição em dieta, sobreposição intermediária em habitat e baixa sobreposição em horário de atividade. Esta constatação está de acordo com a hipótese da complementariedade de nicho, segundo a qual a alta sobreposição em uma determinada dimensão de nicho deve ser compensada pela baixa sobreposição em outra, o que no caso dos canídeos estudados no PNAS ocorre com a dieta e o horário de atividade, respectivamente.
Instituição: Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos-RS).
Autor: Dagoberto Port.
Contato: Centro de Ciências Biológicas (51) 591-1122.