QUEIMADAS CONTINUAM PROVOCANDO POLÊMICA
2003-07-30
A liberação das queimadas como prática para preparação de campos para atividades agropastoris continua provocando debates acalorados. A emenda constitucional 32, promulgada pelo então deputado Estadual Francisco Appio, em julho do ano passado, que liberava a queima controlada no Estado, voltou a ser defendida por ele, agora na Câmara dos Deputados. Segundo Appio, queima controlada existe em todo o Brasil, exceto no Rio Grande do Sul, onde há resistência à prática.— Em Brasília, por exemplo, a queimada está sendo feita agora pelos proprietários com auxílio do Corpo de Bombeiros. Um dos argumentos do deputado é que a queima controlada contribuiria para combater a clandestina. Além disso, conforme o deputado, não seria simplesmente liberar as queimadas e sim autorizar a prática mediante projeto técnico, com acompanhamento do órgão ambiental. Para o ambientalista Geraldo Sussin, da Associação Livre para Gerenciamento Ambiental (Alga), a prática da queimada causa muitos danos ao solo, destrói a vegetação, que armazena água, acabando por assim, comprometendo as nascentes dos arroios. — Com isso, empobrece a terra, tanto pela erosão quanto pela queima de nutrientes, causando sua infertilidade, explica. O autor da emenda defende que as situações peculiares de cada região devem ser respeitadas, como o tipo de terreno e a impossibilidade de recorrer a outras técnicas, como o plantio direto. — Esse é o caso, por exemplo, dos Campos de Cima da Serra, cita Appio. O biólogo e mestre em Ecologia, Marcos de S. Fialho, da Floresta Nacional de São Francisco de Paula, argumenta que é imprescindível que se tenha em mente que (isto vale apenas para os campos de cima da serra) o pecuarista dos campos de São Chico e vizinhanças, em geral, está empobrecido, em parte devido ao baixo valor da carne e em parte devido a baixa produtividade de seus campos. — Contudo, se ele não queimar, a produtividade dele caí ainda mais, pois o gado não mais consome a vegetação seca da geada, inviabilizando a pecuária e abrindo porteira para os plantios gigantescos de Pinus, o que considero muito mais impactante, em vários sentidos, afirma. De acordo com ele, para um criador empobrecido gastar 7.000 reais por hectare (custos fornecidos pela Emater de São Chico) para melhorar seu campo e abandonar a prática de queima não é assim tão fácil.