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2003-05-02
Dia 03 de dezembro, o escritor e teólogo Leonardo Boff estará em Estocolmo para receber, no Parlamento sueco, o Prêmio Right Livelihood (Correto Modo de Vida), um Nobel alternativo. Foi em 1980 que um rico filatelista, Jakob von Uexkull, decepcionado com o desvio do Prêmio Nobel de seu papel humanístico, resolveu criar a sua própria premiação, no valor de US$ 187 mil, que este ano foi concedida a quatro intelectuais. Em entrevista ao suplemento Prosa e Verso, Jornal do Brasil, Boff afirma que este prêmio consagra uma causa. — É a causa dos meus últimos 20 anos que foi tentar unir o grito dos pobres, de onde nasceu a Teologia da Libertação, ao grito da Terra, de onde nasceu o discurso ecológico. A seguir, trechos da entrevista.
Foi a Teologia da Libertação que causou a sua ruptura com a Igreja, não?
BOFF - Em 1984 tive a honra de sentar na cadeirinha de Galileu Galilei, no Santo Ofício, em Roma, que hoje se chama Congregação da Doutrina da Fé. É no edifício do Santo Offici, à esquerda das colunatas do Vaticano. Estive naquela salinha onde, depois de serem torturadas, as vítimas da Inquisição eram interrogadas. Passei na frente de uma grade enorme cheia de espinhos de ferro para fora e perguntei a meu inquisidor: é aqui a sala da tortura? E ele me deu uma cotovelada...
Então até 1992, enquanto você aceitava o controle, não havia rompido com a Igreja?
BOFF - Eu não rompi em termos da comunidade de fé. Eu rompi como padre. Até 1992 ainda era padre franciscano. Roma gostaria que eu me tornasse diretor da Coca-Cola em Bangu, mas eu continuei como teólogo. Eles não gostam que quando um teólogo saia continue teólogo. Quem que vai querer viver de teologia? Só a Igreja mesmo. Ao ser colocado fora da Igreja, você tem que ser outra coisa. Mas eu recebi logo uma carta da Uerj, em julho de 1992, e fiz concurso, tornei-me professor. Continuei fazendo teologia, ética, dando cursos no exterior, escrevendo livros. Não sou mais padre, me autopromovi a leigo, mas continuei com a mesma função de teólogo de antes.
É como teólogo que defende suas idéias?
BOFF - Teólogo, mas de uma forma interdisciplinar, ecumênica. Quem sabe só teologia não sabe nem sequer teologia. A teologia é um discurso de articulação. Você tem que discutir a teologia com a física quântica, com a ética, com a globalização, com os direitos humanos. Dialogar com a contemporaneidade. É isso que dá força aos meus textos...
Você diz em seus livros que a ecologia não é do meio ambiente, é do ambiente inteiro...
BOFF - Tento trabalhar as quatro ramas fundamentais da ecologia: o meio ambiente, que eu nem chamo mais de meio ambiente, falo em comunidade de vida. Trato também da ecologia social - discuto a questão da pobreza, em nível mundial, que é uma questão da ecologia, pois afeta o ser humano que é parte da natureza. Trabalho a ecologia mental, aqueles preconceitos e estruturas mentais que levam às guerras, à violência, à discriminação, e a quarta, que é a ecologia integral, a Terra é parte de um todo, que é o cosmos, que é o sistema solar, galáctico. E daí vem toda uma reflexão a partir da nova cosmologia, que vê o processo revolucionário como processo único, e contraditório, que tem caos e cosmos, e quanto mais ele se expande mais complexo fica e quanto mais complexo mais carregado de consciência, até chegar à consciência do ser humano, e a vida como auto-organização da matéria. Nós, seres humanos, vivemos porque há uma interrelação de todos com todos, entre todas as energias do Universo. A ecologia integral deve incluir a totalidade do ser, e não só ficar na dimensão antropocêntrica ou terracêntrica.

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