OCORRÊNCIA DE COMPOSTOS ORGANOCLORADOS (PESTICIDAS E PCBs) EM MAMÍFEROS MARINHOS DA COSTA DE SÃO PAULO (BRASIL) E DA ILHA REI GEORGE (ANTÁRTICA)
2002-07-03
Os compostos organoclorados causam grande impacto na natureza devido a três características básicas: persistência ambiental, bioacumulação e alta toxicidade. Os mamíferos marinhos estão entre os organismos mais vulneráveis à toxicidade crônica desses contaminantes porque, além de concentrá-los em grande quantidade, a fêmea transfere parte de sua carga ao filhote durante a gestação e a lactação. A dissertação de mestrado de Gilvan Takeshi Yogui (Instituto Oceanográfico da USP, 2002) teve como objetivos otimizar uma metodologia para determinação de organoclorados (pesticidas e PCBs) em matrizes gordurosas e verificar a ocorrência dos mesmos na gordura subcutânea de mamíferos marinhos amostrados na costa de São Paulo (Brasil) e na Ilha Rei George (Antártica). No protocolo metodológico otimizado, a extração foi realizada em extrator Soxhlet (8 h) com uma mistura de n-hexano e diclorometano. A etapa de purificação foi feita através de tratamento ácido e o extrato final analisado em cromatógrafo a gás equipado com detector de captura de elétrons (GC-ECD). A performance do método foi avaliada com material de referência certificado, enquadrando-se dentro de padrões internacionais de controle de qualidade. O limite de detecção do método foi em média 2 ng g-1. As análises apontaram DDTs e PCBs como os grupos que mais causam impacto nos cetáceos da costa de São Paulo. Isso refletiu o histórico de ambos no Brasil, tanto em indústria como em agricultura e saúde pública. Em contrapartida, HCHs e HCB não apresentaram concentrações elevadas, fato que pode ser atribuído à volatilidade dos mesmos em regiões de clima tropical. Da mesma maneira, a-clordano, g-clordano e mirex não foram detectados em níveis significativos. A foca de Weddell (Leptonychotes weddelli), habitante do continente antártico, evidenciou as menores cargas de contaminante entre os animais estudados. As toninhas (Pontoporia blainvillei) e o golfinho-nariz-de-garrafa (Tursiops truncatus) também apresentaram baixos níveis de organoclorados. Os botos-cinza (Sotalia fluviatilis) revelaram concentrações de DDT iguais ou superiores a cetáceos da Índia, país onde esse pesticida ainda não está proibido. Já o golfinho-de-dentes-rugosos (Steno bredanensis) mostrou a maior contaminação entre os animais analisados, comparável a espécies estudadas em águas costeiras de países desenvolvidos (onde os organoclorados foram muito utilizados).