(29214)
(13458)
(12648)
(10503)
(9080)
(5981)
(5047)
(4348)
(4172)
(3326)
(3249)
(2790)
(2388)
(2365)
hidrelétrica de belo monte hidrelétricas na amazônia passivos de hidrelétricas
2014-02-18 | Mariano

Fernando Henrique Cardoso, Lula e Dilma mentiram sobre a hidrelétrica de Belo Monte, a maior obra pública em andamento no Brasil. Essa mentira não vem só. Ela é acompanhada por várias outras, desencadeadas – num intervalo de 13 anos – pelo mesmo detonador: sucessivas – e, às vezes, graves e súbitas – interrupções no fornecimento de energia, os temidos “apagões”.

São acidentes, provocados pela natureza – sobretudo, os inefáveis raios, que caem no Brasil como em nenhum outro país, mas são multiplicados pela imaginação dos interessados nos seus supostos efeitos – ou pelo homem. Do erro, previsível e, por isso, passível de prevenção, resulta outro erro. Provavelmente mais grave.

Áreas e populações cada vez maiores do país estão ameaçadas de ficar sem energia. Imediatamente é apresentada a solução: mais hidrelétricas para aproveitar o potencial da Amazônia, capaz de aumentar em 50% o parque energético nacional em atividade. Duas novas usinas já entraram em operação no rio Madeira, em Rondônia. Jirau e Santo Antônio poderão oferecer ao Sul e Sudeste, onde está o maior consumo, quase tanta energia quanto a que Tucuruí, no rio Tocantins, estava transferindo quando houve o apagão, no dia 4, deixando no escuro populações (talvez 6 milhões de pessoas, na versão oficial subestimada) de 13 Estados e do Distrito Federal.

O maior reforço seria o de Belo Monte. No pique do inverno, como agora, a usina do rio Xingu poderia transferir um volume de energia superior em mais de 70% à potência de Tucuruí, Jirau e Santo Antônio somadas. No verão, porém, a geração pode ficar em zero durante três ou quatro meses.

A vazão do Xingu se reduz 30 vezes entre o auge da cheia e o extremo da vazante. Não haverá água suficiente para acionar as 18 turbinas gigantescas, nem mesmo uma delas, no máximo da estiagem. O projeto original do aproveitamento energético do Xingu previa mais cinco barragens rio acima. Elas produziriam mais energia e reteriam mais água para a maior delas, Belo Monte. O problema é que a área de inundação seria cinco vezes maior do que a de Tucuruí e quase quatro vezes a de Sobradinho, que têm os dois maiores reservatórios brasileiros.

A reação, interna e internacional, foi tão forte que o governo federal voltou atrás. Justamente em 2001, ano do maior apagão, ao qual foi atribuída boa parte da responsabilidade pela derrota do PSDB na eleição do ano seguinte para a presidência da república. Belo Monte passou a ser o primeiro empreendimento elétrico declarado de interesse estratégico para o país.

No dia 17 de setembro de 2001, o presidente do Conselho Nacional de Política Energética da administração FHC, José Jorge de Vasconcelos, assinou o ato que reconhecia a hidrelétrica como estratégica “no planejamento da expansão da hidreletricidade até o ano 2010”, último ano da vigência do plano decenal de energia.

Para que a obra pudesse ser realizada, o governo teria que desistir dos planos iniciais de construir as outras barragens, que provocariam o maior alagamento da história das hidrelétricas. O aproveitamento do Xingu ficaria restrito a Belo Monte. Mesmo nessa usina solitária, o reservatório teria o menor tamanho possível, cobrindo apenas o dobro da área que o rio inunda todos os anos. Seria quase como uma usina a fio d’água, com reserva turbinável apenas no inverno.

Logo os técnicos perceberam que esse esquema não poderia ser usado para uma hidrelétrica que deverá ser a maior do mundo em capacidade instalada. Decidiram criar um vertedouro à margem da calha natural do rio. A água seria desviada para formar esse lago interior através de canais de concreto ou de terra e represada, sendo vertida por um desnível de 90 metros até a casa de força principal, acionando as suas máquinas.

É uma inovação em relação a todas as outras usinas, que segue outra originalidade: o vertedouro principal distante mais de 100 quilômetros da casa de máquinas. Mesmo que esse arranjo funcione a contento, superando o ceticismo e a incredulidade de alguns críticos, nem assim estará assegurada a viabilidade do empreendimento.

As empresas vencedoras da licitação para a concessão logo perceberam que a equação não iria resultar em lucro. Deixaram o consórcio responsável pela geração, a Norte Energia, e foram ocupar suas posições tradicionais, como empreiteiras, no Consórcio Construtor de Belo Monte.

Para preencher seus lugares, o governo colocou as empresas estatais do sistema Eletrobrás, incluindo a própria holding, e os fundos de pensão federais, à frente o Previ, do Banco do Brasil. A estatização de fato foi completada pelo compromisso que o BNDES assumiu de financiar 80% do investimento, mantido mesmo com a triplicação do orçamento. Assim, a construção estaria garantida, mas não a operação.

A Norte Energia funcionaria com prejuízo, que teria de ser reposto pelo governo, porque a energia firme (a média da disponibilidade pelo ano inteiro) continuaria menor do que 40% e abaixo do nivelamento comercial. Seria um sangramento pesado do tesouro nacional.

O apagão do dia 4 surgiu na hora certa para o governo diante desse impasse. Com o alarme nacional e o receio de novas interrupções, a presidente Dilma Rousseff mandou seus porta-vozes anunciarem que o governo vai continuar a construir todas as hidrelétricas projetadas para a Amazônia, inclusive as quatro do Xingu, mesmo que precise passar por cima dos críticos, dos ambientalistas e da própria lei, tornando a política energética um apêndice ditatorial na ordem democrática estabelecida no país.

A conjuntura desfavorável não lhe permitiria alternativa. Ou, dito melhor: o governo prefere partir para cima dos rios amazônicos do que encarar as alternativas. Ainda que para negar hoje o que disse na véspera.

(Por Lúcio Flávio Pinto, Cartas da Amazônia, 18/02/2014)


desmatamento da amazônia (2116) emissões de gases-estufa (1872) emissões de co2 (1815) impactos mudança climática (1528) chuvas e inundações (1498) biocombustíveis (1416) direitos indígenas (1373) amazônia (1365) terras indígenas (1245) código florestal (1033) transgênicos (911) petrobras (908) desmatamento (906) cop/unfccc (891) etanol (891) hidrelétrica de belo monte (884) sustentabilidade (863) plano climático (836) mst (801) indústria do cigarro (752) extinção de espécies (740) hidrelétricas do rio madeira (727) celulose e papel (725) seca e estiagem (724) vazamento de petróleo (684) raposa serra do sol (683) gestão dos recursos hídricos (678) aracruz/vcp/fibria (678) silvicultura (675) impactos de hidrelétricas (673) gestão de resíduos (673) contaminação com agrotóxicos (627) educação e sustentabilidade (594) abastecimento de água (593) geração de energia (567) cvrd (563) tratamento de esgoto (561) passivos da mineração (555) política ambiental brasil (552) assentamentos reforma agrária (552) trabalho escravo (549) mata atlântica (537) biodiesel (527) conservação da biodiversidade (525) dengue (513) reservas brasileiras de petróleo (512) regularização fundiária (511) rio dos sinos (487) PAC (487) política ambiental dos eua (475) influenza gripe (472) incêndios florestais (471) plano diretor de porto alegre (466) conflito fundiário (452) cana-de-açúcar (451) agricultura familiar (447) transposição do são francisco (445) mercado de carbono (441) amianto (440) projeto orla do guaíba (436) sustentabilidade e capitalismo (429) eucalipto no pampa (427) emissões veiculares (422) zoneamento silvicultura (419) crueldade com animais (415) protocolo de kyoto (412) saúde pública (410) fontes alternativas (406) terremotos (406) agrotóxicos (398) demarcação de terras (394) segurança alimentar (388) exploração de petróleo (388) pesca industrial (388) danos ambientais (381) adaptação à mudança climática (379) passivos dos biocombustíveis (378) sacolas e embalagens plásticas (368) passivos de hidrelétricas (359) eucalipto (359)
- AmbienteJá desde 2001 -