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cop/unfccc plano climático riscos climáticos
2013-05-10 | Mariano

Acompanhar o noticiário sobre a mudança climática se tornou tão monótono, quanto anacrônico. "Negociações do clima terminam inconclusivas, novamente", diz a reportagem da IPS, reproduzida pela Aljazeera, sobre a última conferência da UNFCCC, terminada em Bonn, oeste da Alemanha, na sexta-feira (03/05). De tão fria, a notícia só foi publicada quatro dias depois do fim do encontro. Como algo já sabido e esperado. 

De um lado, os alertas de sempre. Cientistas e ambientalistas com suas críticas veladas, urgidas por previsões catastróficas embasadas em modelos computacionais que tentam mimetizar o comportamento do planeta. 

Do outro, o discurso esquizofrênico de políticos e burocratas, louvando os avanços insignificantes e reforçando o "compromisso"  futuro de combate ao desequilíbrio químico atmosférico resultante da queima de combustíveis fósseis.

Ambos os lados parecem esquecer de alguns dados e fatos inconvenientes, como manda a cartilha marqueteira de Al Gore. Primeiro, os dados. Em 2009 o então chefe da NASA para pesquisa climática, James Hansen, publicou o livro "Tempestades dos meus netos" (Bloomsbury USA). Além de um relato auto-biográfico dos seus 30 anos de engajamento como cientista nessa questão, o dado principal da obra é a correção de um parâmetro criado pelo painel intergovernamental do clima (IPCC), com a contribuição do próprio Hansen.

Trata-se do limite para a concentração de CO2 na atmosfera. Oficialmente ele continua sendo de 450 ppm (partes por milhão). No livro, por conta da ainda pouco conhecida influência dos "feedbacks naturais", esse número é reduzido para 350 ppm. Ultrapassado esse limite, estaremos rumo a um aquecimento de 4 ou mais graus centígrados da temperatura média do planeta. Parece pouco, como se ainda não fosse o suficiente para ter um verão carioca no inverno de Porto Alegre. Mas o que os cientistas sabem mesmo é que nunca tivemos tal concentração em um milhão de anos. Ou seja, a humanidade nunca viveu na terra com tanto carbono, daí a incerteza quanto ao impacto disso para a vida na terra.

Detalhe, em 2012 a concentração de CO2 na atmosfera bateu na casa dos 400 ppm.

Potencializando a mudança

No final do ano passado, o Instituto de Ciência Atmosférica e Climática da Suíça publicou um artigo na revista Nature estimando as emissões anuais de gases estufa no mundo todo. São 52 gigatoneladas, sem contar com os tais "feedbacks", como a acidificação dos oceanos, por exemplo. Independente do que essa enorme quantidade signifique, segundo a pesquisa, ela deve ser reduzida em 20% até 2020. Isso se quisermos evitar o pior.

Olhando só os números, tal meta parece factível. Mas o que é necessário para chegarmos lá? Por exemplo, devemos desligar 65% de todas as usinas a carvão operando atualmente mundo a fora.

Quem trabalha na área de energia sabe que a tendência vai no sentido contrário, impulsionada especialmente pelo crescimento da demanda e pela falta de alternativas viáveis. Esse fato é confirmado pelo aumento de 3% nas emissões globais em 2012. E as soluções tecnológicas em vista apresentam-se mais como um sonho futuro, sem prazo nem garantia de que podem funcionar efetivamente.

Por fim, o artigo da Nature detona a burocracia da ONU. Pois, mesmo que antigíssemos as metas estabelecidas nos acordos da UNFCCC, e não estamos nem perto disso, ainda assim chegaríamos a 2020 com uma emissão global anual de 55 gigatoneladas.

Outro dado interessante relacionado a isso é referente aos subsídios. Segundo a Agência Internacional de Energia, anualmente a indústria dos combustíveis fósseis recebe cerca de 500 bilhões de dólares em subsídios. Por conta da crise econômica internacional, não há nenhuma previsão de que essa ajudinha estatal seja reduzida. Em outras palavras, estamos na prática acelerando a velocidade e a intensidade da mundança vindoura.

Sentimento de urgência

O grande fato é que todos os governos, as empresas e os cidadãos seguem escravos de um sistema onde o consumo em excesso e o crescimento ilimitado são tabus intocáveis. Pouco interessam as alternativas já estudadas e avalizadas. A economia, a política e a mídia agem em sincronia para perpetuarem o modus-operandi dessa humanidade que se tornou uma praga para o planeta e para si mesma.

Apesar dos fracassos e das más experiências, continuamos delegando nossas responsabilidades a líderes que, como nós, só conseguem pensar em como resolver os próprios problemas. Aliás, se formos cruzar todos dados e fatos, veremos que o máximo que conseguimos até agora foi usar conceitos bonitos para vestir atividades e atitudes há muito indesejáveis.

A esperança está além das convenções, leis e até do conhecimento. Mesmo incertos quanto às previsões e ao tempo que tenhamos, sabemos o que nos espera. Há um certo sentimento desconfortável de urgência que todos, independente da ideologia, nacionalidade ou condição, estão a compartilhar.

(Por Mariano Senna, Ambiente JÁ, 10/05/2013)


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