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2013-04-05 | Mariano

O trecho da BR-277 entre as cidades de Paranaguá e Curitiba, no Paraná, é um dos mais importantes do sul do Brasil. Ele passará a se chamar Rodovia Cecílio do Rego Almeida. Se for aprovado em instância final um projeto apresentado em 2009 pelo deputado federal André Vargas, do PT paranaense, que é vice-presidente da Câmara dos Deputados.

A iniciativa se transformará em lei graças ao voto dado na Comissão de Constituição e Justiça por outro petista paranaense, o deputado José Mentor, se nenhum parlamentar impedir a sanção do projeto. Mentor se tornou famoso pelo seu confuso relatório sobre o escândalo das lavagens de dinheiro através do Banestado, banco igualmente paranaense.  O deputado petista disse ter proposto a “justa homenagem”, em reconhecimento ao “trabalho” do empresário, que “foi perseverante em seu objetivo”

A Construtora C. R. Almeida, uma das maiores empreiteiras do país, doou 2,3 milhões para candidatos petistas na eleição de 2010. A empresa foi uma das envolvidas nos escândalos da concorrência fraudulenta da Ferrovia Norte-Sul nos anos 1980. Por feliz coincidência, a Rodovia Cecílio do Rego Almeida será administrada pela própria C. R. Almeida, que já detém. a concessão de exploração do pedágio desse trecho, através da EcoRodovias, da qual possui 64% das ações.

O homenageado era paraense, nascido em Óbidos. Aos sete anos se transferiu para o Paraná, onde fundou e comandava o grupo C. R. Almeida, constituído por mais de 30 empresas que atuam nas setores de construção pesada, concessão de rodovias e logística de transporte, química e explosivos Cecílio morreu em 2008, aos 78 anos.

No último dia 13 de março eu contribuí com pouco mais de 25 mil reais para a fortuna da família. Esse dinheiro não era propriamente meu: foi obtido através de coleta pública nacional pela internet. Eu bem que gostaria de usá-lo no meu Jornal Pessoal, quinzenário que circula em Belém do Pará há mais de 25 anos. Daria para custear um semestre inteiro do jornal, em formato ofício, com 12 páginas e tiragem de dois mil exemplares.

Ao invés disso, vai se destinar aos sucessores e herdeiros do empresário glorificado pelo PT do Paraná. Corresponde à indenização que a justiça do Pará me obrigou a pagar, no desfecho de uma ação que ele iniciou em 2000. Alegou ofensa à sua honra pessoal por eu o ter chamado de pirata fundiário, em artigo publicado no meu pequeno jornal. Na época, cobrou R$ 4 mil como reparação pela sua honra ofendida. O valor final, de R$ 25 mil, decorreu da correção monetária e dos acréscimos do processo.

A história já é conhecida e a relembrei em outro artigo que escrevi nesta coluna, Se eu, outros jornalistas e alguns servidores públicos, dentre os quais procuradores estaduais e federais e, infelizmente, apenas juízes federais (os estaduais ficaram ao lado do pirata fundiário), Cecílio Almeida teria se apropriado de uma área de terras públicas com sete milhões de hectares.

Considerando-se por base um preço abaixo do praticado na região do Xingu, onde se situa a grilagem do empresário, de R$ 5 mil o hectare, a “Ceciliolândia” valeria 35 bilhões de reais. Claro: valor que sairia do patrimônio público do Pará e iria para os cofres de C. R. Almeida, já que nunca essas terras saíram legalmente do domínio do Estado para o patrimônio privado, a não ser pela apropriação ilícita absurda e monumental. Nada menos do que a maior grilagem de toda a história da humanidade. Pelo menos no Pará, o único título concedido ao empresário Cecílio do Rego Almeida, pela Assembleia Legislativa do Estado, foi a de persona non grata.

País imenso e, de certa forma, incompreensível este nosso. O homem que é tratado como herói pelo PT do Paraná, é apontado como malfeitor pelo PT do Pará, Estado, aliás, onde o personagem nasceu e que deixou quando ainda era menino. Mudou-se de vez para o Paraná, onde criou seu império e para ele atraiu os petistas que o homenagearam.

Com quem está a verdade e a razão?

(Por Lúcio Flávio Pinto, Cartas da Amazônia, 04/04/2013)


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