Está de pé o projeto bilionário que prevê a exploração de ouro no entorno da usina de Belo Monte, em construção no rio Xingu, em Altamira (PA). Dia 10 de Janeiro, uma audiência pública foi realizada no município vizinho de Senador José Porfírio, a 50 quilômetros de Altamira. Foi o segundo encontro sobre o assunto marcado pela Secretaria do Meio Ambiente (Sema) do Pará e a empresa canadense Belo Sun Mining, que promete transformar o Xingu no “maior programa de exploração de ouro do Brasil”. A primeira audiência ocorreu em setembro do ano passado.
O objetivo do encontro foi debater com as populações e técnicos informações do relatório de impacto ambiental (Rima) elaborado pela Belo Sun e dar subsídios à Sema para definir a viabilidade do licenciamento ambiental do empreendimento.
A Belo Sun, que pertence ao grupo canadense Forbes & Manhattan Inc., um banco de capital fechado que desenvolve projetos internacionais de mineração, pretende investir US$ 1,076 bilhão na extração e beneficiamento de ouro. A produção média prevista para a unidade de beneficiamento, segundo o relatório de impacto ambiental da empresa, é de 4.684 quilos de ouro por ano, o que significa um faturamento anual de aproximadamente R$ 540 milhões.
Para lavrar o ouro do Xingu, a empresa pretende mexer com 37,80 milhões de toneladas de minério tratado nos 11 primeiros anos de exploração da mina. As previsões são de que a exploração avance por até 20 anos. Os estudos ambientais da empresa foram apresentados à Secretaria do Meio Ambiente em fevereiro do ano passado. Segundo a Belo Sun, seu projeto não terá nenhum impacto sobre as obras ou infraestrutura da hidrelétrica de Belo Monte, usina que está sendo erguida na Volta Grande do Xingu pelo consórcio Norte Energia. A mineração também não teria impacto direto no leito do rio.
A Norte Energia evita falar sobre o assunto, mas fontes ligadas ao consórcio garantem ao Valor que a empresa não quer nem ouvir falar em explosões de dinamites de mineração próximas à sua barragem. A avaliação é de que o projeto trará mais complicações socioambientais para a usina.
O cronograma inicialmente desenhado pela Belo Sun já está comprometido. A empresa canadense tinha a previsão de obter a licença prévia do empreendimento até o fim do ano passado, com a consequente licença de instalação do projeto emitida neste semestre e início das operações em junho.
O projeto passou a ser acompanhado de perto pelo Ministério Público Federal (MPF) no Pará, que apontou dúvidas sobre o assunto e solicitou informações à empresa. O MPF questiona se o licenciamento do projeto não deveria ser tratado pelo Ibama, dada a complexidade do empreendimento e sua relação direta com a usina de Belo Monte. A Belo Sun nega qualquer irregularidade e informa que está cumprindo o que determina a legislação ambiental do país.
Atualmente, quatro companhias canadenses estão entre os cinco maiores exploradores de ouro industrial no Brasil. Do Canadá, atuam no país a Kinross, Yamana, Jaguar Mining e Aura Gold. A lista inclui ainda a AngloGold Ashanti, da África do Sul. Juntas, essas empresas detêm cerca de 90% da extração industrial.
(Por André Borges, Valor Econômico / Amazônia.org, 11/01/2013)