A afirmação é de Roberto Dumas, responsável pela área de risco socioambiental do banco Itaú. Segundo ele, sem políticas públicas será impossível alcançar uma economia sustentável: “Se depender só das empresas e dos bancos, não vamos atingir uma nova economia, vai ficar na conversa”.
Dumas falou para uma plateia formada por presidentes e diretores de gigantes empresariais de diversos setores da economia, que viajaram de todo o país para o I Fórum Sustentabilidade e Governança, realizado em Curitiba.
Durante dois dias, empresários e consultores da área de responsabilidade empresarial refletiram sobre os rumos da “economia verde”, expressão da moda no meio corporativo.
Cadeia Produtiva
O executivo do Itaú falou sobre a corresponsabilidade dos bancos ao emprestar dinheiro para empresas com problemas em suas cadeias produtivas, tais como devastação ambiental, trabalho escravo, invasão de áreas de preservação e de terras indígenas. “Um banco pode, certamente, ser responsável pela devastação da floresta”, disse ele.
Leia abaixo as principais reflexões de Roberto Dumas, que foi bastante objetivo ao falar dos riscos que um banco enfrenta ao financiar projetos predatórios.
- Os executivos do banco me perguntam: “Dumas, pra que você quer uma política de risco socioambiental? Eu só ofereço capital de giro. Eu não poluo, são os caras que poluem”. Eu digo ao executivo do banco: querido, você é corresponsável, então você também polui.
- Toda instituição financeira deveria endereçar isso, a questão da corresponsabilidade. Não por amor a pátria, não porque a ONG está pedindo, mas porque isso vai afetar o nosso próprio negócio.
- O boicote a bancos ainda não chegou ao Brasil, mas se você for ao Google e colocar “boicote a bancos”, vai encontrar um monte de coisas.
- Imagina alguém levantando a bandeira de um banco na paulista e dizendo: “vamos boicotar esse banco porque ele não é sustentável”. O que vai acontecer com a ação desse banco? O que vai acontecer com a tua reputação? Com a velocidade da internet, com os tuitaços? Eu tenho plena convicção de que, se isso acontecer no meu banco, serei defenestrado.
- Se um projeto é paralisado porque não teve a aprovação de uma comunidade indígena, por exemplo, como essa empresa vai pagar a dívida que tem comigo, se o projeto está parado?
- Levamos em conta a análise socioambiental quando analisamos a concessão de um crédito. Isso não é para inglês ver. É uma coisa muito séria, que várias instituições financeiras estão abordando.
- Tudo tem que estar dentro da equação risco x retorno. Se depender só das empresas e dos bancos, não vamos alcançar uma nova economia. Vai ficar muito na conversa. Sem políticas públicas não será possível alcançar uma economia sustentável.
- O banco é corresponsável pelo que fazem seus clientes.
- O meu nirvana seria, um dia, ver que a variável socioambiental está tão embutida nas análises de crédito que não precisa de um setor só pra isso, porque já estão considerando esses pontos quando analisam o cliente e o projeto.
- Nesses 12 anos que cuido de sustentabilidade, aprendemos que sempre é possível avançar mais.
- Nós entendemos que o risco socioambiental é importante para a perenidade do nosso negócio, a sustentabilidade do nosso negócio.
- Temos que lidar com a resistência dos clientes.
- Isso não tem nada de xiitismo, não tem nada de romântico, não tem nada de um departamento separado da área de crédito que vai analisar e que só vai agradar as ONGs e os organismos multilaterais. Não, isso tem que ser perene em qualquer instituição financeira. Desde a área comercial até a área de credito, tem que saber que isso vai afetar meu negócio.
(Rede Sustentavel, 28/08/2012)