A empresa é acusada de contaminar o meio ambiente com produtos cancerígenos. Pessoas que moram no entorno da unidade estão ficando doentes. Ministério Público diz que a CSN ignorou os riscos à população.
No atual estágio em que se encontra o planeta e o debate sobre a sustentabilidade, não dá mais pra admitir que uma empresa contamine o meio ambiente e cause doenças. Não dá pra uma família economizar dinheiro, comprar um carro e saber que o aço daquele veículo foi fabricado de uma forma que contaminou a natureza e deixou pessoas gravemente doentes. Por que o consumidor precisa pagar a conta de uma estrutura arcaica, inaceitável nos atuais padrões da responsabilidade empresarial?
O que acontece no município de Volta Redonda, no Rio de Janeiro, não é um problema local, mas global, pois contamina a cadeia produtiva do aço, um dos produtos mais necessários à vida em sociedade:
A CSN – Companhia Siderúrgica Nacional, quarta maior empresa de aço do país, está sendo processada pelo Ministério Público Federal. Em Volta Redonda, pessoas que moram no entorno de uma unidade da companhia estão ficando doentes.
Pesquisa da Secretaria Municipal de Saúde constatou considerável incidência de abortos e leucopenia (redução do número de glóbulos brancos no sangue). “Essa doença é contraída principalmente por operários que trabalham nos setores da coqueria e aciaria da usina. Também conheci algumas pessoas com essa doença na vizinhança,” disse ao jornal O Globo o mecânico de manutenção Rogério Márcio Oliveira, que trabalhou 20 anos na CSN.
“A CSN ignorou os riscos à população”, diz o procurador da República Rodrigo da Costa Lines. “A companhia sempre se esquiva, alegando que são necessários mais estudos”.
CONDENAÇÃO JUDICIAL
Somente em 2012, a CSN sofreu duas condenações judiciais. Uma por poluição e outra por danos à saúde de um funcionário, que contraiu benzenismo, causado pela intoxicação por benzeno, que atinge a medula óssea e o sistema nervoso.
Em fevereiro de 2012, fiscais do governo estadual flagraram a empresa jogando resíduos químicos nas margens do rio Paraíba do Sul, um dos mais importantes da região e que abastece Volta Redonda e outros municípios. Um mês antes, em janeiro, um vazamento de óleo da CSN contaminou o mesmo rio Paraíba do Sul.
Consultorias ambientais contratadas pela própria CSN constataram que a empresa é responsável pelo vazamento de substância tóxicas e cancerígenas, tais como bifenilas policloradas (PCBs), cromo, naftaleno, chumbo, benzeno, dioxinas, furanos e xilenos. O vazamento ocorreu em áreas ocupadas por residências e centros de lazer.
Em nota, a CSN informou que serão apresentadas provas que demonstram a conduta correta da empresa em relação às denúncias e aos problemas.
CADEIA PRODUTIVA
Ao permitir que suas atividades industriais causem doenças e danos ambientais, a CSN contamina toda a cadeia produtiva do aço.
A empresa atua em todos os elos desse setor, desde a extração do minério de ferro até a produção de uma diversificada linha de produtos com alto valor agregado, como folhas metálicas, galvanizados e aços longos. A empresa também atua nos setores de cimento e logística.
A CSN é controlada pelo Grupo Vicunha, que detém 47,86% do capital. A Vicunha divide suas atividades entre a área têxtil e a siderúrgica.
Os principais clientes da CSN são as montadoras de automóveis, fábricas de embalagens, construção civil, fábricas de eletrodomésticos, máquinas e equipamentos. Em 2010, a empresa teve uma receita líquida de R$ 14,45 bilhões.
Ao contaminar o meio ambiente e causar doenças, a CSN joga por terra as tentativas de levar sustentabilidade à cadeia produtiva do aço. Quando a montagem de um automóvel usa aço contaminado por doenças e vazamentos de produtos cancerígenos, toda a cadeia de valor fica comprometida.
PREJUÍZO
Saiu hoje a notícia de que a CSN divulgou um prejuízo de R$ 1,3 bilhão no segundo trimestre, causado por investimentos equivocados na compra de ações da Usiminas, sua concorrente. Analistas do Santander e da SLW Corretora estimaram que a perda com esses títulos da concorrente poderia ser de até R$ 2 bilhões.
(Por Marques Casara, Rede Sustentavel, 15/08/2012)