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2012-08-07 | Mariano

Análise estatística demonstra que ondas de calor por todo o planeta ficaram pelo menos 50% mais comuns graças ao aquecimento global e leva cientista a afirmar que previsões passadas foram muito otimistas.

"Quando testemunhei perante o Senado no quente verão de 1988, alertei para o tipo de futuro que as mudanças climáticas trariam para o nosso planeta. Desenhei um cenário desolador, com o aumento das temperaturas sendo resultado do uso de combustíveis fósseis. Mas eu tenho uma confissão para fazer: eu estava sendo muito otimista.” Este é o início do artigo “Mudanças Climáticas estão aqui – e piores do que pensávamos”  (Climate change is here — and worse than we thought) publicado por James Hansen, diretor do Instituto de Estudos Espaciais Goddard da NASA, no jornal Washington Post, na última sexta-feira (3).

O artigo foi divulgado em conjunto com uma análise estatística, publicada no periódico Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS), na qual climatologistas, incluindo James Hansen, concluem que ondas de calor estão mais comuns e passaram a cobrir áreas maiores.

Hansen salienta que o novo trabalho não é uma previsão. “Não fizemos um modelo climático, este estudo é fruto de observações reais de eventos climáticos e temperaturas que aconteceram.”

“Nossa análise mostra que não é mais suficiente dizer que o aquecimento global aumentará a probabilidade de clima extremo e repetir que não podemos relacionar um evento individual às mudanças climáticas. Ao contrário, nossa análise deixa claro que para o calor extremo no passado recente não há outra explicação que não as mudanças climáticas”, afirmou Hansen.

De acordo com a análise, entre 1981 e 2010 ondas de calor extremo cobriram 10% do planeta, representando um aumento de até 100% da área coberta entre 1951 e 1980. A análise não apenas afirma que as ondas de calor se expandiram devido ao aquecimento global, como também demonstra que o chamado calor moderado (quando as temperaturas estão 50% acima do que seria o esperado) mais do que dobraram, passando de 33% para 75% no mesmo período.

“Podemos declarar, com alto grau de confiança, que anomalias extremas como as vistas no Texas e Oklahoma em 2011 e em Moscou em 2010 foram consequências do aquecimento global”, escreveu Hansen.

O verão de 2011 foi o mais quente da história nos estados norte-americanos do Texas e Oklahoma. Já na Rússia, o verão de 2010 teve as temperaturas mais elevadas em 130 anos de registros.

A análise publicada no PNAS destaca que “uma pessoa com idade suficiente para lembrar-se do clima entre 1951 e 1980 é capaz de perceber a existência das mudanças climáticas, especialmente no verão”.

Os pesquisadores reconhecem que condições climáticas locais obviamente atuam nos eventos extremos, mas que as mudanças climáticas são agora um fator fundamental.

“Não é incomum que meteorologistas rejeitem o aquecimento global como a causa desses eventos, oferecendo outras explicações meteorológicas. Por exemplo, foi afirmado que a onda de calor em Moscou foi causada por uma situação de ‘bloqueio’ atmosférico e que a do Texas foi resultado de alterações nas temperaturas oceânicas decorrentes do La Niña. Entretanto, ‘bloqueios’ e La Niña sempre foram comuns e os eventos em questão só aconteceram agora que o aquecimento global está atuando”, argumenta a análise.

As conclusões deste novo estudo se somam a um trabalho recente realizado por cientistas do serviço meteorológico britânico (Met Office), da Administração Oceânica e Atmosférica Nacional dos Estados Unidos (NOAA) e de centros de pesquisas de diversas universidades, que afirma que o aquecimento global tornou mais prováveis alguns dos eventos climáticos extremos do ano passado.

Batizado de “Explicando Eventos Extremos de 2011 a partir de uma Perspectiva Climática”, o trabalho acompanha o relatório anual “Estado do Clima 2011”, php divulgado pelo NOAA.

Em seu artigo no Washington Post, Hansen afirma que ainda é possível evitar as piores consequências das mudanças climáticas, mas que estamos desperdiçando um tempo precioso.

“Podemos solucionar o desafio das mudanças climáticas com uma taxa crescente para o carbono sobre as empresas dos combustíveis fósseis, com 100% desses recursos sendo direcionados para residentes legais em uma base per capita. Isto estimularia inovações e criaria uma economia de energia limpa com milhões de novos empregos. É uma solução simples, honesta e efetiva. O futuro é agora. E é quente”, conclui Hansen.

(Por Fabiano Ávila, Instituto CarbonoBrasil / IHU, 06/08/2012)


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