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rio 2012/cúpula da terra sustentabilidade e capitalismo cúpula dos povos
2012-07-23 | Mariano

A Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio+20), que reuniu no Rio de Janeiro representantes de 191 países entre 20 e 22 de junho, produziu uma declaração final considerada fraca, sem ambição, sem mudanças substanciais que  pudessem justificar seu título, “O Futuro que Queremos”. A economia verde, um dos temas centrais da negociação, ficou sem definição, por falta de acordo. Mas passou a fazer parte da agenda internacional “como um dos instrumentos mais importantes disponíveis para alcançar o desenvolvimento sustentável”.

Já na Cúpula dos Povos por Justiça Social e Ambiental, evento paralelo à Rio+20 realizado no Aterro do Flamengo entre 15 e 22 de junho por movimentos sociais e organizações da sociedade civil, por onde circularam mais de 300 mil pessoas, de diversos países, a economia verde foi denunciada e rejeitada em todas as assembleias, plenárias e marchas que pararam o centro do Rio de Janeiro, e também em boa parte das cerca de 800 atividades autogestionadas realizadas em tendas armadas ao longo do parque, um cartão postal com a assinatura de Burle Marx.

“A dita ‘economia verde’ é uma das expressões da atual fase financeira do capitalismo que também se utiliza de velhos e novos mecanismos, tais como o aprofundamento do endividamento publico-privado, o super-estímulo ao consumo, a apropriação e concentração das novas tecnologias, os mercados de carbono e biodiversidade, a grilagem e estrangeirização de terras e as parcerias público-privadas, entre outros”, denuncia a declaração final da Cúpula dos Povos, considerada por muitos ambientalistas tão genérica como o documento apresentado pela ONU.

Inimigo comum
Na avaliação do economista João Pedro Stédile, da Via Campesina, a Cúpula dos Povos foi um espaço muito importante de confluência de ideias e movimentos. Segundo ele, mais do que documentos, convergiram vontades políticas de todos para botar energia contra um inimigo comum, o grande capital financeiro e as grandes corporações internacionais “que vem ao Brasil e à América Latina para se apoderar dos nossos recursos naturais, provocando desequilíbrios ambientais e problemas para toda população”, disse ele.

Stédile argumenta que é preciso se rebelar contra isso, pois “a economia verde é um fetiche. Uma falsa propaganda que alguns capitalistas estão querendo usar para dizer que é possível ter um capitalismo sustentável, mas como modo de produção é impossível porque o capitalismo é predador. Tão pouco as grandes empresas estão envolvidas nisso. Bancos, petrolíferas e mineradoras estão cagando e andando para a economia verde. Eles querem é lucro”, afirmou sem meias palavras o economista ligado ao MST e à Via Campesina.

Marcio Pochmann, professor de economia da Unicamp, afirmou em debate da Fundação Perseu Abramo que “vivemos as melhores condições de superação do capitalismo”. Destacou que há três tipos de modelo de sociedade em debate. Um pós-desenvolvimentista, presente no discurso do Equador e da Bolívia, que defende a volta a uma sociedade agrária, o outro é a economia verde associada ao mercado, que poderá fazer o capitalismo evoluir através de uma reforma tributária profunda e da modernização tecnológica, e o terceiro um novo tipo de desenvolvimento humano.

Lobby excessivo
Pedro Ivo Batista, um dos coordenadores da Cúpula dos Povos, lembra que desde a Rio 92 muitos acordos e tratados positivos foram firmados. Porém falta vontade política para implementá-los. Para ele, a economia verde é uma solução de mercado para tentar superar a atual crise econômica. Não opinião do ambientalista e ex-dirigente sindical da CUT, “é preciso criar um órgão mundial de meio ambiente forte, com recursos, poder político e um sistema de participação mais democrático, que possa inclusive regular o mercado. Quem precisa de liberdade são os seres humanos”.

A posição da Cúpula dos Povos contra a economia verde, explica Lúcia Ortiz, da Rede Brasil sobre Instituições Financeiras Multilaterais e do Amigos da Terra Brasil, foi definida a partir da experiência de movimentos que já vinham sendo assediados por instrumentos do mercado de carbono, como o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo, criado pelo Protocolo de Kyoto. “Antes de isso ser chamado de economia verde já existia um processo de denúncia e resistência a essas falsas soluções. Também somos contra o Pagamento por Serviços Ambientais”, ressalta.

O sistema das nações unidas, que acaba de introduzir formalmente a economia verde na agenda dos governos, está sendo desvirtuado pelas corporações, protesta Lúcia Ortiz, que participa de uma campanha internacional para tentar reverter esta situação. “Estamos lutando para acabar com o lobby excessivo do setor privado e as parcerias imorais da ONU com empresas para que se crie de fato um sistema legal de denúncia e controle social das corporações. Esperamos uma resposta até o fim do ano”, informa a coordenadora dos Amigos da Terra Brasil.

“O problema não é a ONU, são os países que continuam pensando dentro de suas caixinhas”, opina Paulo Adário, coordenador das campanhas do Greenpeace na Amazônia. Para ele, “a economia verde deveria ser aquela que gera emprego, renda e desenvolvimento, mas que tem a proteção ambiental como eixo fundamental”. O Greenpeace nunca foi anticapitalista. Na Rio 92, a principal ação deles, de grande repercussão, foi a divulgação de um relatório inédito sobre maquiagem verde de grandes empresas. Na Rio+20,  defenderam o desmatamento zero na Amazônia.

Já os índios presentes na Cúpula dos Povos, com apoio de entidades estrangeiras como a Amazon Watch, protestaram fortemente contra os impactos sociais e ambientais da usina hidroelétrica de Belo Monte. Diversas ONGs socioambientais, que foram minoria na Cúpula dos Povos, entre elas a SOS Mata Atlântica, vista por João Pedro Stédile como uma entidade de “burgueses reformistas”, realizaram um concorrido evento com o objetivo de reorganizar a luta contra o afrouxamento das regras do Código Florestal, ainda em discussão no Congresso Nacional.

(Por Roberto Villar Belmonte, Jornal Extra Classe, Julho/2012)


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