As mobilizações contra o projeto mineiro Conga, de extração de ouro e cobre no Peru, se intensificaram novamente após mais de 40 dias de greve. Mesmo com a implantação do Estado de Emergência, as ações tiveram continuidade desafiando a intensa presença militar e policial nos municípios do departamento de Cajamarca. Além de exigir a inviabilidade de Conga, da estadunidense Newmont, agora os manifestantes pedem a renúncia do Primeiro ministro, Óscar Valdés.
Quinta-feira (12/07), o dia foi repleto de manifestações não só na região de Cajamarca, mas também na capital, Lima, onde a Articulação Continental de Movimentos Sociais e estudantes cajamarquinos promoveram uma ampla agenda de atividades. Pela manhã, as ações aconteceram na Universidade Nacional de Engenharia e pela tarde se concentraram na Praça San Martín com hasteamento da bandeira ‘Não mais mortos – Conga não vai’, exposição de fotos e costura coletiva da bandeira ecológica em homenagem a Cajamarca.
Na Sexta-feira 13, Lima também foi palco de uma grande manifestação em solidariedade à população que luta contra o projeto mineiro. Pela manhã, as atividades foram realizadas na Universidade Nacional Federico Villareal, já pela tarde se desenvolveu a "jornada nacional de luta”, organizada pela Confederação Geral de Trabalhadores do Peru (CGTP). A jornada consistiu em um conjunto de atividades que tiveram a participação de grêmios de professores, trabalhadores, campesinos, organizações juvenis, de mulheres e partidos de esquerda.
A jornada, que começou na Praça Dois de Maio e seguiu pelas ruas de Lima até a Praça San Martín, reforçou os pedidos da população de Cajamarca pela inviabilidade do projeto mineiro Conga e a renúncia do Primeiro ministro, Óscar Valdés, a quem consideram o responsável pelas cinco mortes ocorridas no contexto de manifestos contra o projeto mineiro e que teriam ocorrido em virtude da repressão policial. Segundo o secretário geral da CGTP,Mario Huamán, além de Lima, a "jornada nacional de luta” aconteceu também em dez cidades do Norte e Sul do Peru.
A Confederação Geral de Trabalhadores também se manifestou denunciando uma campanha midiática contra a jornada nacional de luta. A CGTP assegura que é interesse de alguns meios de comunicação proteger os interesses dos grupos de poder econômico e evitar que a opinião pública exija as mudanças prometidas durante as últimas eleições.
Em Cajamarca, a Frente de Defesa Ambiental da região também promoveu ações contra a instalação do projeto mineiro que pode provocar desabastecimento hídrico no departamento. Desafiando o Estado de Emergência imposto em Cajamarca, Celendín e Hualgayoc, o setor mais radical de Bambamarca (capital de Hualgayoc) realizou uma marcha pelas ruas da cidade para mostrar o repúdio absoluto ao projeto aprovado pelo presidente Ollanta Humala.
Demandas
Na segunda-feira (9), a Frente de Defesa Ambiental de Cajamarca levou ao governo seus principais pontos de discussão. A pauta consta de 17 pontos que questionam o estudo de impacto ambiental apresentado pela mineira Yanacocha; pede a defesa do meio ambiente e do ecossistema altandino; exige respeito à saúde da população de Cajamarca, Celendín e Bambamarca; pede que se conheça a geografia da região onde se pretende instalar o projeto Conga; exigem que o governo e os meios de comunicação não semeiem a divisão entre a população cajamarquina; pede medidas exemplares contra os policiais e militares que tiraram a vida dos cinco manifestantes, entre outras.
Na ocasião, a Frente de Defesa também entregou aos mediadores uma garrafa com água contaminada, de cor amarela, retirada do rioArascorgue (Bambamarca), para mostrar o que acontecerá com as fontes de água e, por fim, asseguraram plena disposição para continuar a luta em defensa da água e do meio ambiente.
(Por Natasha Pitts, Adital / EcoAgência, 13/07/2012)