(29214)
(13458)
(12648)
(10503)
(9080)
(5981)
(5047)
(4348)
(4172)
(3326)
(3249)
(2790)
(2388)
(2365)
crise econômica extração de carvão
2012-07-12 | Mariano

Quando os 160 mineiros saíram das regiões carboníferas ao norte da Espanha, há exatos 20 dias, poucos acreditavam que a promessa de marchar até a capital do país – em protesto aos cortes de subvenções que o governo de Mariano Rajoy determinou como parte dos ajustes anticrise – fosse vingar.

Mas eles não apenas entraram em Madri, como conquistaram o apoio massivo da população por cada povoado onde passaram ao longo dos 400 quilômetros de trajeto feito a pé. No entanto, o único encontro que esperavam ter, na sede do Ministério da Indústria foi frustrado: o governo recebeu aos mineiros com o batalhão de choque da polícia e o confronto terminou com 76 feridos.

Milhares de madrilenhos haviam saído de suas casas na noite de terça-feira para apoiar a marcha noturna pelo centro da cidade – que terminou depois da uma da manhã –, e as expectativas dos sindicatos, de que de a jornada derradeira do protesto, na manhã desta quarta-feira fosse reunir 25 mil pessoas “ficou pequena” segundo o diário El País.

Ocorre que ao cabo dos 20 dias de marcha, os carvoeiros se transformaram no símbolo de todos os cidadãos descontentes com a política de recortes imposta pelo governo. “Neste momento os mineiros são os únicos que dão mostras de luta para a sociedade”, resumiu o funcionário do metrô de Madri Carlos Ortega, 55 anos, que caminhava tranquilamente ao lado da multidão, sob as árvores, com um livro de suspense de Mary Higgins Clark entre as mãos – todo um contraste com os ânimos arrefecidos dos manifestantes.

Curioso é que no dia em que a Marcha Negra, como foi apelidada, entrou em Madri, o país tinha que aceitar uma intervenção não declarada (embora com todo o impacto que possa ter) da União Europeia, que reduziu os poderes do ministro da Economia, Luis de Guindos, para dar mais autonomia ao Banco da Espanha.

E enquanto os trabalhadores da mineração caminhavam rumo ao Ministério da Indústria, o presidente Mariano Rajoy anunciava o fim do pagamento especial de Natal aos funcionários públicos e uma nova subida de impostos – o que significa outra quebra de promessa de campanha.

De certa maneira, até o problema com o setor da mineração é resultado de um pacto rompido: Rajoy eliminou do orçamento da União os 175 milhões de euros destinados ao setor a título de subvenção – valor que já era inferior ao pactado no Plano Carvão 2006-2012 e que o anterior presidente, José Luis Rodríguez Zapatero também reduziu durante o seu mandato.

Apoio popular
A marcha dos mineiros dessa quarta-feira saiu da Praça Colombo, coração do bairro da burguesia madrilenha, e terminou quase na Praça de Castilha, centro empresarial da cidade. Passou diante de inúmeras instituições bancárias, incluindo várias das que receberão o dinheiro do resgate espanhol que alcança o valor 100 bilhões de euros, que começam a ser pagos ainda em julho.

“Prefiro resgatar a um mineiro que a um banqueiro”, dizia um cartaz entre os milhares que se podia ler na manifestação.

A interação entre público e manifestantes era visível até nas palavras de ordem. Foi o que aconteceu quando, depois de uma parada na marcha para cantar o hino a Santa Bárbara, a patrona da mineração. Ao final da canção, o público, aplaudindo, cantava: “España entera!, siempre minera!” - ao que os manifestantes emendaram: “Ese pueblo!, sí nos quiere!”. Em seguida veio a réplica do público, que dizia “Esta es mi selección!” - uma alusão aos título da Eurocopa de futebol recém-conquistado pelo país e que foi objeto de debate depois que o presidente Rajoy, ao despedir-se dos jogadores antes da competição pediu: “Ganhem, meninos, porque a Espanha precisa de um pouco de alegria”.

Até que a simbiose se completou: quando os trabalhadores das minas de carvão cantaram “Mineros, unidos,! jamás serán vencidos!” e imediatamente, ao redor da marcha, centenas de gargantas iniciaram simultaneamente a cantar: “El pueblo, unido, jamás será vencido”.

Uma das apoiadoras era a aposentada Angeles Gomez Losada, de 88 anos, uma senhora que caminhava com dificuldades no meio da multidão, mas que fez questão de prestigiar os mineiros. “O que mais importa é que as pessoas vejam eles. É uma forma de todos tomarem consciência”, ensinava.

Carisma e brutalidade
É verdade que além de serem o grupo organizado que neste momento recebe as atenções do país – antes foram os Indignados e os ativistas da greve geral de 29 de março – em razão dos protestos contra a política de austeridade levada a cabo pelo Partido Popular, que só faz acatar as ordens ditadas pela União Europeia, os mineiros contam também com a simpatia da população.

As histórias de superação “desse setor tão maltratado” – como definiu o trabalhor do setor de serviços José Delfín, que veio dar seu apoio –, contadas pelos jornais durante os 20 dias de caminhada intensa dos mineiros, além das fotos dos pés repletos de bolhas, comoveram o país.

São narrativas como a de Mar Sánchez, 41 anos, que trabalha 700 metros debaixo da terra. “É um trabalho sub-humano”, admite. “Tens hora para entrar na mina e não sabes se vais sair. Todos os dias morrem mineiros enquanto estão trabalhando... aconteceu com o meu pai, quando tinha 47 anos”, resume a mulher.

Mesmo diante desse sofrimento, é muito comum que famílias inteiras das regiões de Astúrias, Leão, Palência, Aragão e Castilha La Mancha sobrevivem da mineração. “Não temos escolha porque lá não há outra coisa para fazer”, lamenta Juanjo Alonso, 30 anos, mineiro como sua mulher, seu sogro, seu irmão e seus cunhados. “Por isso vamos lutar até que isso termine, isso acaba de começar”, ameaça, com uma bandeira republicana pendurada em um cajado – instrumento que virou ícone do protesto.

Outra característica desses manifestantes – que tem lá seus admiradores – é a agressividade que demonstraram durante a Marcha Negra. Em Madri, por exemplo, a cada minuto explodiam rojões no meio da multidão e o enfrentamento com a polícia foi também consequência da hostilidade demonstrada pelos manifestantes que atiravam pedras nos agentes de segurança e gritavam xingamentos.

(Por Naira Hofmeister, Carta Maior, 12/07/2012)


desmatamento da amazônia (2116) emissões de gases-estufa (1872) emissões de co2 (1815) impactos mudança climática (1528) chuvas e inundações (1498) biocombustíveis (1416) direitos indígenas (1373) amazônia (1365) terras indígenas (1245) código florestal (1033) transgênicos (911) petrobras (908) desmatamento (906) cop/unfccc (891) etanol (891) hidrelétrica de belo monte (884) sustentabilidade (863) plano climático (836) mst (801) indústria do cigarro (752) extinção de espécies (740) hidrelétricas do rio madeira (727) celulose e papel (725) seca e estiagem (724) vazamento de petróleo (684) raposa serra do sol (683) gestão dos recursos hídricos (678) aracruz/vcp/fibria (678) silvicultura (675) impactos de hidrelétricas (673) gestão de resíduos (673) contaminação com agrotóxicos (627) educação e sustentabilidade (594) abastecimento de água (593) geração de energia (567) cvrd (563) tratamento de esgoto (561) passivos da mineração (555) política ambiental brasil (552) assentamentos reforma agrária (552) trabalho escravo (549) mata atlântica (537) biodiesel (527) conservação da biodiversidade (525) dengue (513) reservas brasileiras de petróleo (512) regularização fundiária (511) rio dos sinos (487) PAC (487) política ambiental dos eua (475) influenza gripe (472) incêndios florestais (471) plano diretor de porto alegre (466) conflito fundiário (452) cana-de-açúcar (451) agricultura familiar (447) transposição do são francisco (445) mercado de carbono (441) amianto (440) projeto orla do guaíba (436) sustentabilidade e capitalismo (429) eucalipto no pampa (427) emissões veiculares (422) zoneamento silvicultura (419) crueldade com animais (415) protocolo de kyoto (412) saúde pública (410) fontes alternativas (406) terremotos (406) agrotóxicos (398) demarcação de terras (394) segurança alimentar (388) exploração de petróleo (388) pesca industrial (388) danos ambientais (381) adaptação à mudança climática (379) passivos dos biocombustíveis (378) sacolas e embalagens plásticas (368) passivos de hidrelétricas (359) eucalipto (359)
- AmbienteJá desde 2001 -