Estocolmo, na Suécia, e Fujisawa, no Japão, são exemplos de como investir em soluções integradas para tornar o território urbano mais sustentável e, além disso, melhorar a qualidade de vida de seus habitantes
Se o resultado da Conferência das Nações Unidas para Desenvolvimento Sustentável (Rio+20) não deu muitos frutos, os eventos paralelos ao encontro tiveram ao menos a chance de plantar algumas sementes. Algumas iniciativas, divulgadas durante o evento, mostram que é possível fazer um futuro mais sustentável, mesmo com ações locais.
Uma destas ações é a Simbiocity, projeto sueco que tem como objetivo promover o desenvolvimento urbano sustentável e holístico, através da sinergia de problemas urbanos, melhorando a eficiência dos sistemas e economizando recursos.
Entre os problemas estão a questão do uso de energia pelo setor industrial, a gestão de resíduos, tecnologias de informação e comunicação, energia, planejamento urbano, arquitetura e plano diretor, trafego e transporte e fornecimento de água e saneamento básico.
O programa funciona da seguinte maneira: se há dois problemas, como a gestão de resíduos e a o desperdício de calor industrial, o sistema tenta buscar uma solução integrada para eles, como por exemplo a utilização de tais resíduos para a produção de aquecimento. Desta forma, o número de soluções para os problemas pode aumentar bastante.
Outros exemplos são combinar o desperdício de calor industrial para o aquecimento de casas, a arquitetura com o planejamento urbano, de forma a aproveitar mais o sol e as sombras para economizar com custos de aquecimento e resfriamento, combinar o tratamento de águas residuais com sistemas de trafego, fornecendo biocombustível para o transporte público etc.
Pode parecer complicado, mas há diversos exemplos do país que mostram que há soluções inteligentes e sustentáveis para os problemas urbanos que enfrentamos hoje. A própria capital da Suécia, Estocolmo, que é hoje um modelo na questão e foi eleita em 2010 a capital mais verde da Europa, já foi uma das cidades com pior qualidade hídrica, atmosférica e de saúde do continente.
A partir da década de 1970, no entanto, a Suécia passou a diminuir sua dependência do petróleo para sistemas de aquecimento e produção de eletricidade, reduzindo 90%. As emissões do país também diminuíram: 9% entre 1990 e 2006; no mesmo período, seu produto interno bruto (PIB) aumentou 44%.
Mas as soluções só surgiram com o investimento em inovação, cooperação e na abertura às mudanças internacionais. Uma das iniciativas que mais deram resultado foi o bairro de Hammarby Sjöstad, em Estocolmo, que na década de 1990 era uma zona industrial com cais e docas e hoje tem residências atrativas para milhares de holmienses – os habitantes de Estocolmo. Estima-se que até 2015 ele abrigue cerca de 25 mil habitantes, dos cerca de 860 mil que a cidade terá.
Entre os mecanismos presentes em Hammarby Sjöstad estão um sistema que reutiliza os resíduos do tratamento de água e esgoto para a geração de energia com biogás para as residências, um que combina a arquitetura com o planejamento de habitações energeticamente eficientes, sistemas subterrâneos automáticos de coleta de lixo, eletricidade e água quente geradas por energia solar, sistema de transporte de bicicletas etc.
Os resultados não tardaram a aparecer; o distrito agora tem 40% menos estresse ambiental, 50% menos eutrofização, 45% menos ozônio no solo e apresenta um consumo de água 40% menor. Mas as soluções sustentáveis de Estocolmo não se limitam a esse bairro; algumas iniciativas, como prédios que são energeticamente eficientes ou que não emitem quase nenhum CO2, ou ainda o transporte público movido a biocombustível, estão por toda a cidade.
Se Estocolmo está investindo em um presente verde, outros países já estão planejando um futuro com cidades mais limpas. Um exemplo é o Japão, que tem vários planos para a implantação de programas de eficiência energética em edifícios, estímulo ao transporte público e de bicicletas etc.
Um desses projetos é a criação de uma cidade “inteligente e sustentável”, que será chamada Fujisawa Sustainable Smart Town (Fujisawa SST). A cidade, que já está em construção, abrigará cerca de mil casas espalhadas em 200 mil m2, e deve ficar pronta até 2014.
Entre as soluções que a cidade irá implantar, só há tecnologias já disponíveis: uma rede energética inteligente, geração de energia solar residencial, sistema de transporte público elétrico e a biocombustível, edificações com o máximo possível de eficiência energética etc.
Outra ideia é criar um “eixo verde” com parques e vegetação ao longo das ruas principais. A cidade faz parte de um projeto de recuperação de áreas devastadas pelo terremoto e tsunami de 2011 e é localizada na província de Kanagawa.
As nove empresas que estão financiando o projeto (Panasonic, Mitsui Fudosan, Tokyo Gas, Accenture, Orix Corp, Nihon Sekkei, Sumitomo Trust & Banking, PanaHome Corp. e Mitsui & Co.P) pretendem criar um distrito com cerca de 70% menos emissões de CO2 em comparação com os níveis de 1990.
Essas iniciativas mostram que, se ainda há muito para ser feito na proteção do meio ambiente e na criação de um modelo econômico mais sustentável, as cidades estão dando os primeiros passos em direção a essa mudança.
Uma recente pesquisa do Carbon Disclosure Project (CDP), que analisou estratégias climáticas e emissões de carbono de 73 cidades do mundo, mostrou que 70% delas já estão criando ações para mitigar as mudanças climáticas e seus efeitos. Essas cidades são responsáveis por cerca de 630 atividades de redução de emissões, que vão do plantio de árvores a implementação de eficiência energética em edifícios.
E mais do que se prepararem para as alterações ambientais que já estão ocorrendo, muitas cidades veem essa adaptação como uma oportunidade econômica. Segundo o estudo, 82% das cidades que usam a plataforma do CDP enxergam tais oportunidades, sobretudo na criação de empregos e no desenvolvimento de novas indústrias.
Infelizmente, uma maior implementação dessas ações sustentáveis ainda esbarra na falta de investimento. Embora o Banco Mundial e outros bancos de desenvolvimento anunciem que apoiam esforços das cidades para combater as mudanças climáticas, menos de 1% das atividades de redução de emissões são financiadas por esses bancos.
Portanto, o relatório concluiu que, para levar tais esforços adiante, é necessário somar as forças dos governos locais, nacionais, de empresas e da sociedade civil.
(Por Jéssica Lipinski, Instituto CarbonoBrasil, 28/06/2012)