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rio 2012/cúpula da terra crise ecológica política ambiental brasil
2012-06-26 | Rodrigo

A imagem-síntese da Rio+20 aconteceu na plenária final, lá pelas 21h de sexta-feira. Enquanto delegados davam seus recados finais antes do discurso de Dilma Rousseff (a Suíça cobrando ambição, o Vaticando defendendo valores da Idade Média e os EUA reforçando que não queriam saber de nada daquilo), um delegado asiático dormia a sono solto no meio da bagunça.

A Rio+20 foi isso, especialmente em seus últimos dias: sonolenta. Nem fracasso, nem sucesso. Apenas um evento que terminou da mesma forma como começou, carente de ideias, premido por uma crise internacional e ainda eclipsado por um golpe de Estado no Paraguai em seus estertores. Sequer ganhou as manchetes dos jornais de sábado. Ainda bem, porque não as merecia.

Terminou com um discurso de Dilma que precisava evoluir muito para ficar ruim. Foi morno até para os padrões da presidente, que cumpriu à risca o roteiro de antiestadista ao falar de crise econômica, botar o dedo na cara dos ricos pelo “tsunami monetário” etc. Acho que ela quis dar uma de ambientalista e reciclou seu discurso no G20 para a Rio +20. Ou, pior, não percebeu que era o mesmo discurso.

Como se para ressaltar que a história se repete como fraude, Dilma destacou que a Rio +20 nos deixa “uma agenda de trabalho para o século 21″. Achei até que ela estivesse falando da Rio-92, já que esta sim nos deixou uma agenda para o século 21 (chama-se, exatamente por isso, Agenda 21).

A presidente também ressaltou como uma vitória da cúpula um suposto resgate do multilateralismo. Vejamos: uma conferência multilateral é elogiada por seu multilateralismo. A mim parece um argumento circular.

A conferência deixou de legado um documento chocho, “O Futuro que Queremos”, fruto de um acordo apressado e forçado cujo sumo foi todo espremido para que pudesse caber na caixa cronológica definida pelo Itamaraty.

Há a esse respeito duas interpretações: o “Earth Negotiations Bulletin”, uma newsletter criada em 92 e cujos editores acompanham em detalhes as negociações internacionais resultantes da primeira conferência do Rio, tem uma visão benevolente em análise publicada hoje.

Chama os diplomatas brasileiros de “olímpicos” e diz que eles apostaram alto e ganharam ao forçar o consenso tão cedo numa pauta que seria impossível de consensuar de qualquer forma. Os ambientalistas e a imprensa  brasileira têm visão oposta.

Para mim, a Rio +20 foi uma vitória do século 20 sobre o 21. Da retranca infantil e terceiromundista do G77 sobre a economia verde, a descarbonização, a produção de tecnologia com alto valor agregado. De Hugo Chávez e Raúl Castro sobre José María Figueres e François Hollande.

Foi a demonstração final de que o mundo não está preparado para uma transição econômica do porte que a ciência demanda para evitar mais problemas de desenvolvimento e mais colapsos ambientais no futuro. Não é à toa que a atrasada e petroleira Venezuela saiu do Riocentro rindo de orelha a orelha.

Para o Brasil, foram R$ 500 milhões, duas semanas e uma oportunidade histórica jogados no lixo, e sem direito a reciclagem. E a culpa é toda de Dilma.

Sim, de Dilma. O ódio atávico da mandatária por todas as coisas verdes impediu que os setores progressistas do governo brasileiro apitassem no encaminhamento interno e externo da Rio +20.

Dilma insistiu em dizer que os resultados da conferência não devem ser olhados pelo retrovisor e que sua pauta é de longo prazo, mas permitiu que o circunstâncias de curtíssimo prazo ditassem sua condução.

Da boca para fora, priorizou a Rio +20; fez birrinha e pediu a cabeça de Brice Lalonde e Ban Ki-moon quando aquele mui diplomaticamente criticou o Brasil e este disse que não estava 100% satisfeito com o documento. Mas não moveu uma palha para transformar o assunto em agenda exclusiva em reuniões bilaterais com outros mandatários.

Talvez tivese conseguido trazer Angela Merkel se houvesse. Talvez tivesse conseguido um acordo sobre oceanos para chamar de seu, declarar vitória e calar a boca das ONGs e dos chatos da imprensa se tivesse conversado com jeitinho com Obama.

Mas, mais do que isso, se tivesse feito algum esforço para entender o que estava em jogo na Rio +20 (e, justiça seja feita, capacidade intelectual não lhe falta), Dilma poderia ter unido o Basic mais o México em torno da imensa oportunidade que a economia verde representa para esses países, nos quais o custo da transição é pequeno e os lucros potenciais são enormes (vide energias renováveis na China).

O Brasil, como reparou o embaixador André Corrêa do Lago, é provavelmente o país do mundo mais adaptável à economia verde. Mas foi puxado para baixo pelos setores mais retrógrados do G77, porque nossos diplomatas não receberam um mandato claro para turbinar a agenda.

Dilma perdeu ainda uma excelente oportunidade de ficar calada ao anunciar a fabulosa quantia de US$ 16 milhões para o Pnuma (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente) e para o combate à mudança climática nos países pobres.

A mesma Dilma que uma semana antes emprestara US$ 10 bilhões ao FMI para salvar a Europa e que três anos atrás, em Copenhague, dizia que, para o Brasil, dar R$ 1 bilhão para o combate à mudança climática no Terceiro Mundo “não fazia nem cosquinha”. Decerto a inflação desvalorizou a oferta brasileira.

No final, nossa presidente perdeu a janela de oportunidade de virar para a novíssima economia o que Lula foi para a erradicação da pobreza — um campeão. Nenhuma surpresa para uma líder que costuma andar por aí chamando energias renováveis de “fantasia”. A fantasia foi a maior derrotada na Rio +20.

***

Este é o último post do “Entre Colchetes”. Para alegria de muitos e tristeza de meia dúzia de leitores, o blog está sendo descontinuado após o fim do evento que ele se propôs a cobrir. Agradeço a oportunidade de discutir ambiente neste espaço e a paciência da maioria de vocês. E já adianto que não pretendo voltar na Rio +40. Até qualquer hora.

(Por Claudio Angelo, Entre Colchetes, 25/06/2012)


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