Saldo é um documento político de 53 páginas; metas do desenvolvimento sustentável são a maior inovação. Dilma diz que cúpula foi "ponto de partida, não de chegada"; ONU destaca parcerias e acordos voluntários
A Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável terminou como começara: num tom melancólico e sem surpresas.
Num mundo vitimado pela crise econômica, os 114 líderes reunidos no Riocentro contentaram-se em repetir as promessas feitas em 1992 e adiar de novo ações que a ciência aponta como urgentes.
A presidente Dilma Rousseff, em seu discurso de encerramento, destacou como um dos grandes resultados do encontro o "resgate do multilateralismo" -algo repetido em toda reunião internacional que não acaba em um fracasso óbvio.
"O Futuro que Queremos", de 53 páginas, fixa 2015 como data mágica da sustentabilidade global. É quando entrariam em vigor os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, ideia que deve ganhar definições a partir de 2013.
Os objetivos são o principal processo internacional lançado pela Rio+20, que também prometeu adotar um programa de dez anos para rever os padrões de produção e consumo da humanidade.
Outras decisões esperadas, como um mecanismo de financiamento ao desenvolvimento sustentável e um acordo global sobre a proteção do alto-mar, foram adiadas. "É como trocar as cadeiras de lugar no deque do Titanic", disse Kumi Naidoo, diretor-executivo do Greenpeace, resumindo a reunião.
Para o ex-presidente da Costa Rica José Maria Figueres os diplomatas no Rio estão desconectados da realidade. "Não são mais negociadores, são 'no-goal-tiators'", afirmou, num jogo de palavras em inglês ("no goal" significa sem objetivos).
Para Dilma, a Rio+20 é o "alicerce" do avanço. "Não é o limite, nem tampouco o teto do nosso avanço."
"Festa cívica"
Dilma chamou de "festa cívica" os protestos que pipocaram pelo Rio durante a semana e parabenizou os emergentes por se comprometerem com o desenvolvimento sustentável "mesmo na ausência da necessária contrapartida de financiamento prometida pelos países desenvolvidos."
Anunciou que o Brasil dará R$ 12 milhões ao Pnuma (programa ambiental da ONU) e mais R$ 20 milhões para o combate à mudança climática em países pobres.
O secretário-geral da Rio+20, Sha Zukang, afirmou que parte do legado da Rio+20 são os compromissos voluntários firmados entre setor privado, governos e sociedade civil. Segundo ele, foram registrados 705 acordos, que irão direcionar R$ 1,6 trilhão ao desenvolvimento sustentável nos próximos dez anos.
O caráter voluntário dos compromissos foi criticado. "Não precisávamos de pessoas anunciando aqui o que poderiam ter anunciado em suas capitais", disse Naidoo.
Sha lançou uma nota de cautela, lembrando que os compromissos feitos em Copenhague, em 2009, não foram cumpridos até hoje.
(Por Claudio Angelo, Denise Menchen e Fernando Rodrigues, Folha de S. Paulo, 23/06/2012)