Secretária de estado anuncia um fundo de 20 milhões de dólares para energia sustentável na África. "Temporada brasileira" dura menos de 20 horas
Com passagem relâmpago, Hillary Clinton foi o retrato da postura dos Estados Unidos na Rio+20. Antes de discursar na cúpula de chefes de estado, a secretária de estado anunciou um fundo de 20 milhões de dólares para fomentar investimentos na área de energia sustentável na África.
Uma tímida contribuição para o desenvolvimento sustentável se comparada às expectativas de negociação dos países em desenvolvimento, que se esforçaram para evocar o princípio, consolidado na Rio 92, das responsabilidades diferenciadas — segundo o qual os países desenvolvidos têm uma dívida histórica pela degradação ambiental.
O G77+China, grupo do qual o Brasil faz parte, chegou a propor a criação de um fundo conjunto de 30 bilhões de dólares, para o qual se esperava uma contribuição de boa parte de dinheiro americano. Esse foi apenas um dos pontos das negociações que os Estados Unidos barraram no documento final.
Resistentes aos acordos para transferência de tecnologia, em meio ao lobby histórico pelo direito de propriedade intelectual, os americanos contribuíram para a falta de consenso sobre os meios de implementação, que definiriam como os países colocariam em prática os acordos da conferência.
Avessos a compromissos internacionais, os Estados Unidos apostam na promoção de financiamentos voluntários e tentam promover investimentos do setor privado. Ao anunciar o novo fundo, Hillary deixou claro que, para os Estados Unidos, o setor público não deve arcar sozinho com a conta do meio ambiente.
"O desenvolvimento sustentável é a chave para o nosso futuro, tanto para o sucesso econômico quanto para a segurança ambiental. Os governos não podem resolver sozinhos os problemas que enfrentam. Por isso é tão importante as parcerias com a sociedade e o com o setor privado", afirmou.
Os americanos também sinalizam que seus esforços serão focados para os países mais pobres. Com isso, a África fica mais suscetível a receber as verbas dispensadas pelos Estados Unidos do que países como China, Brasil, Índia e Rússia, considerados parceiros, mas também potenciais concorrentes.
"Já fizemos muitos discursos. É hora de agir. A África é uma das economias que cresce mais rápido. Queremos desenvolver o setor de energia para gerar empregos e fornecer eletricidade para mais pessoas", afirmou Hillary.
Hillary procurou listar as iniciativas unilaterais dos Estados Unidos para a promoção do desenvolvimento sustentável. Entre as cifras mencionadas, ela citou o orçamento de 2 bilhões de dólares aprovado pelo congresso americano para fomentar investimentos em energia limpa nos países em desenvolvimento.
A secretária de estado também citou um fundo já existente de 50 bilhões de dólares para investimentos em energia sustentável disponíveis através do Bank of America, ao longo dos próximos 10 anos.
Hillary decidiu passar poucas horas no Rio de Janeiro. A secretária de estado chegou por volta da meia-noite, e passou a noite no hotel Windsor Atlântica. Os compromissos no Riocentro são rápidos. Às 10h50, Hillary falou rapidamente com a imprensa e logo após foi para a cúpula de chefes de estado, onde discursou em nome dos Estados Unidos. Hilary marcou encontros bilaterais com o primeiro-ministro do Líbano, Najib Mikati, com a primeira-ministra da Austrália, Julia Gillard e com o presidente da Sérvia, Tomislav Nikolic.
Para Hillary, que não vai ficar nem mesmo para o encerramento da conferência, a Rio+20 é questão de menos de 20 horas.
(Por Rafael Lemos e Luís Bulcão, Veja.com, 22/06/2012)